quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

EXPEDIÇÃO ANDINA 2017 - PARTE 1

Esta viagem foi planejada em meados de 2016 e a idéia, a princípio, seria partir de Boa Vista, Roraima com destino à Venezuela, Colômbia, Equador, Peru, retornando ao Brasil pelo Acre.
Contudo, as fronteiras entre Venezuela e Colômbia estão fechadas  desde agosto de 2015 e sem previsão de reabertura. Aliás, este fato não é de conhecimento de muitos motociclistas que acabam vindo para a região e não conseguem fazer legalmente a travessia entre os dois países.

Constantemente repasso esta informação à colegas viajantes mas ainda assim alguns não acreditam e resolvem ariscar. Infelizmente acabam voltando.
Quando planejamos a viagem, havia a expectativa de reabertura da fronteira mas isso não aconteceu. Em razão disso, partimos para o plano B. Antes que alguém pergunte, demos o nome de Expedição Andina pois rodaremos mais de dez dias sobre a Cordilheira dos Andes, um grande desafio.
Esse plano previa o envio das motos em caminhão até Porto Velho/RO uma vez que a BR 319 entre Manaus e Porto Velho está intransitável nesta época do ano devido às chuvas torrenciais na região.
Do mesmo modo, o plano previa partirmos de Porto Velho para Rio Branco e de lá para a fronteira com o Peru e depois Bolívia, visitando Machu Picchu, Lago Titicaca e Salar de Uyuni, retornando pelo Mato Grosso do Sul.
E assim fizemos.
Quinze dias antes do Natal de 2016 carregamos as cinco motos (duas BMW 1200 com Marcus, Prola e Ednelma, uma Triumph 1200 com Arlindo e Marluce, eu e a Nilva com uma BMW 650 e o Mauro em uma Harley Davidson) em uma carreta que rodou até Manaus e de lá seguiu em cima de uma balsa até a capital rondoniense. Ao todo, foram quase quinze dias, tendo as motos chegado no dia 28 de dezembro.

SEGUNDO DIA
Partimos dia 02 de janeiro de Boa Vista em vôo da Azul até Porto Velho onde chegamos à noite e nos hospedamos no Hotel Nativo (Av. Marechal Deodoro, 2711 - tel 069 3221 5244) pertencente ao motociclista Zezinho.
A viagem até Machu Picchu contará com três casais e outros dois "solteiros". De lá, um casal retornará a Porto Velho e os demais seguirão viagem.
Na manhã seguinte, fomos até a transportadora buscar as motocas e a tradicional "chupeta" foi necessária pois duas motos não tinham carga na bateria suficiente para a partida.
Resolvido o problema, voltamos ao hotel para carregar a bagagem. Mais tarde foi necessário trocar a bateria da moto do Marcus pois ela continuava sem carga.
A expectativa era grande pois, do grupo, somente eu já tinha rodado pelo Peru e Bolívia em 2014.

SEGUNDO DIA
O dia amanheceu ensolarado e depois do café, partimos de Porto Velho tomando a BR 364 com destino à Rio Branco, Acre.
A estrada em boas condições nos leva por Jaci-Paraná até Abunã, onde temos que tomar uma balsa para cruzar o Rio Madeira.
A ponte já está sendo construida e acredito que até o final do ano já esteja pronta, aposentando as balsas que hojem cobram R$ 15,00 pela travessia de motos.
Desta vez a Harley não "pegou" e enquanto fazíamos a travessia em cima da balsa, aproveitamos para outra chupeta usando a bateria de um carro ao lado.
Do outro lado do rio, continuamos rodando em Rondônia (alguns pensaram inicialmente que já era o Acre) e abastecemos em Nova Califórnia onde almoçamos.
Na saída da balsa, o primeiro incidente com um dos colegas perdendo o equilíbrio e deixando a moto tombar para o lado. Nada grave. Apenas a gozação depois do susto.
Continuamos na estrada alguns quilômetros depois entramos no Acre.
Ali uma placa indica que à esquerda  é a Estrada do Pacífico e seguindo reto pela BR 364 iremos para Rio Branco, nosso destino daquele dia.
Chegamos em Rio Branco por volta das 16h depois de rodar 530 kms e enquanto estávamos descarregando a bagagem no João Paulo Hotel (Av. Ceará, 2090 - tel. 68 2106 8900), um motorista parou o carro e veio conversar conosco e nos convidou para ir ao seu bar, o Rota 606, à noite, onde estariam apresentando a nova moto BMW 700.
Convite aceito, sai junto com o Mauro à procura de uma oficina recomendada e que ficava perto do hotel.
Localizamos facilmente a oficina do Zeca e não teve jeito, outra bateria a ser trocada.
Aliás durante conversa com o Zeca, ele informou que faz socorro de motos inclusive no Peru. Então é bom os aventureiros anotarem o telefone dele: 068 99205 5162 (dias depois precisamos e já conto como foi).
À noite fomos conhecer o Route 606 onde interagimos com vários motociclistas da cidade e conhecemos a nova BMW 700. Confesso que não gostei da moto: é uma mistura da 650 com a 800. Falta personalidade própria eheheh.

TERCEIRO DIA

Partimos por volta das 08 horas, deixando Rio Branco e tomando esburacada BR 317 que nos levou por Senador Guiomard e Capixaba, Brasiléia, ao ladinho da Bolívia e passamos próximo de Xapuri, a terra de Chico Mendes.
Ali a gasolina custa R$ 4,28 no posto localizado no entroncamento da BR317 com a rodovia que segue para Xapuri.

Era quase meio dia quando demos saída rapidamente no passaporte em Assis Brasil, 320 kms de Rio Branco.
Interessante e diferente do habitual. Aqui você passa pela imigração e dá saída do país. Logo depois, antes de chegar ao Peru, você passará por Assis Brasil. Como não tínhamos nada pra fazer na cidade, seguimos para a fronteira.
Parada rápida para fotos nas tradicionais placas mostrando a divisa e lá fomos nós. Atravessamos a pequena cidade de Inhapari, já no Peru e chegamos na aduana e imigração.
Aqui cabe um esclarecimento sobre os procedimentos.
Quando você chega, o primeiro passo é ir até a imigração onde se preenche um formulário que será entregue ao agente de imigração junto com o passaporte. Importante mencionar neste formulário que você está indo a lazer ou turismo pois quer for à trabalho, pagará um adicional de 18% a título de IVA em alguns locais como hotéis por exemplo.
Esse formulário será exigido nestes locais, a fim de conferir esta informação.
Tendo dado entrada na imigração, é hora de ir até o Sunat ou aduana para dar entrada da moto.
Importante ressaltar que em viagens internacionais você deve levar os documentos originais e também cópias extras. Cópias do passaporte, da CNH, do documento da moto serão necessários(eu, particularmente, prefiro levar cópias a mais. Certa vez no Equador, tive que rodar 15 km pra tirar uma xerox, mas esta é outra história).
Também sempre levo a PID - Permissão Internacional para Dirigir e o cartão de vacina da febre amarela. Vai que pedem......
Pois bem, voltando à realidade, o agente do Sunat tinha ido almoçar e esperamos uma hora para o retorno dele.
Ali nos pediram estas cópias e também uma cópia do ticket da imigração que tiramos no bar ao lado..
Outro agente foi conferir placa e chassi das motos e logo depois outro formulário foi emitido e parte dele nos foi entregue com o lembrete que seria necessário entregá-lo na saída do país.
Até tentamos adiantar o seguro de terceiros, o conhecido SOAT, mas a funcionária da seguradora disse que só poderia fazer depois que déssemos entrada no SUNAT.
Informação importante também. Ao lado do SUNAT tem um bar onde é feito o câmbio de dólares ou reais para soles, tira-se xerox e se faz o SOAT. Tem até bebidas .......
Bom, o câmbio em janeiro era de 0,93 soles para cada real ou 3,30 soles para cada dólar.
O Seguro Obligatório de Accidentes de Terceros - SOAT custou-nos R$ 135,00 e é obrigatório. Não fazê-lo pode representar rísco de apreensão da moto pela polícia nas estradas do Peru.
Depois de quase três horas, deixamos Inhapari pela rodovia 30C com destino à Puerto Maldonado, 230 quilômetros à frente.
Aqui já se percebe a qualidade das estradas peruanas. Não encontramos nenhum buraco!!
Passamos por Alerta, Mavilla e pequenos povoados na beira da estrada. Um deles chamou a atenção pela grande quantidade de lixo jogado às margens da rodovia. Depois ficamos sabendo que era uma currutela (garimpo) que o governo até tentou mas não conseguiu retirar.
A tardinha chegamos em Puerto Maldonado e nos dirigimos até o hostal Tambopata (Av. Tambopata, 677 - tel 5182502645). Antes da viagem reservei no Booking os hotéis em várias cidades. Por isso era importante chegar nos destinos dentro do prazo planejado pois o cancelamento da reserva em cima da hora implica no pagamento de meia diária, debitado no cartão. E eu tinha feito cinco reservas em cada hotel!!
Já noite decidimos jantar no Burgos, um bom restaurante com a tradicional Cusquenha geladíssima.
Deixamos as motos na garagem e fomos andar de tuc tuc, o tradicional veículo de três rodas no Peru. Pagamos cinco soles por cada tuc tuc que levam até três pessoas, além do piloto.
Aqui cabe um comentário adicional.
Todo motociclista deve saber que a altitude da cordilheira provoca mal estar, cefaléia, desmaios, dentre outros sintomas pelo ar rarefeito. Raros são os viajantes que não sentem o efeito do conhecido Mal de Puna ou Soroche.
Na Bolívia e Peru recomendam a ingestão de chá de coca ou até mesmo mascar a folha de coca para amenizar os efeitos da falta de ar. Desta vez, me preveni e pesquisando, descobri com amigos o medicamento conhecido no Brasil como Diamox, que tem sido usado para evitar os sintomas. Busquei informações com médico sobre efeitos colaterais e decidimos usar o medicamento enquanto estivéssemos nas alturas da cordilheira. São três comprimidos ao dia, um a cada oito horas, começando um dia antes da subida.
Em 2014 fiquei ruim três dias seguidos por não ter tomado as precauções necessárias. Nem folha de coca deu jeito.
Então, antes de viajar para a região, procure um médico e avalie se o medicamento pode ser usado neste caso.
Só digo uma coisa por experiência própria, o Soroche pode abreviar a sua viagem pelos Andes. Então faça o possível para evitá-lo.

QUARTO DIA
Deixamos o hotel por volta das nove horas depois de fotos com duas meninas, filhas de funcionários do hotel. Tomamos a estrada para Cusco, objetivo deste dia e distante 470 quilômetros já nas alturas da Cordilheira dos Andes.
Logo depois passamos por Mazuco e foi uma grata surpresa encontrar os amigos Félix Gonzales e o Walter Valeriane, motociclistas venezuelanos da Isla Margarita que estavam rodando pelo Peru.
Batemos um papo rápido e seguimos adiante pois eles iriam para Juliaca e Puno e nós para Cusco por estradas diferentes.
 A Estrada do Pacífico se divide em duas rodovias mais à frente. Seguindo em linha reta se chega a Juliaca e Puno e entrando à direita passamos pela ponte e tomamos a 3S para Cusco.


A subida da cordilheira e suas centenas de curvas, muitas em forma de U faz com que a velocidade média caia bastante e isso é bom pois há mais tempo para se apreciar as belas paisagens.
Junto com o frio veio uma leve chuva fazendo com que a temperatura caisse rapidamente.
Quando chegamos no ponto mais alto, estávamos rodando acima das nuvens com temperatura próximo do zero. Quase passamos direto pela placa que indicava o ponto mais alto daquela rodovia, o Abra Pirhuayani com seus 4.725 msnm.


Nesta rodovia há diversos pontos por onde a água da montanha desce, passando sobre a pista. Felizmente neste dia o volume de água era pequeno e passamos facilmente.
Na entrada da cidade fomos parados em uma blitz da polícia. Para nossa surpresa o amigo Juan Gaete de Cusco (oficial aposentado da policia peruana) estava nos esperando  e fomos dispensados de apresentar a documentação.No dia anterior já tinha avisado o amigo Juan Gaete  que chegaríamos e ele foi nos esperar a  uns 80 kms de Cusco.  Alegrias que o motociclismo nos proporciona.
Assim, escoltados pelo amigo em sua BMW 700, o seguimos descendo a cordilheira.
Aí percebi que o freio dianteiro da minha moto dava sinal de desgaste e não demorou para ficar totalmente sem freio.
Anoitecia e para não atrasar a chegada em Cusco, fui usando um pouco do freio traseiro e freio motor.
Foi assustador mas chegamos sem maiores transtornos.
Na entrada de Cusco foi pedido ao grupo que se mantivessem próximos pois o hotel era no centro e o trânsito era intenso. Perder alguém ali, naquele horário, ia dar dor de cabeça.
Chegamos por volta das 19h no Casa Grande Hotel (Av. Santa Catalina Ancha, 353 - tel. 514247037). Esse hotel é um dos poucos que tem estacionamento e fica a uma quadra da Plaza de Armas.
Percorrer as estreitas ruas de paralelepípedos com chuva, praticamente sem freios e com intenso trânsito não foi  a melhor das experiências.
Chegamos no hotel e o recepcionista abriu a ampla porta de vidro para que entrássemos  com as motos pela recepção para ter acesso ao estacionamento. Carro ali, nem pensar.
Depois de dar entrada no hotel nos despedimos do amigo Juan e ajeitamos a bagagem nos quartos.
Com chuva e frio, saímos para jantar e comemorar o cumprimento da primeira etapa.
Amanhã será dia de descanso e vamos conhecer Cusco.


2 comentários:

  1. Post muito legal, com muita imagem bonita... com lugares lindos.
    Moto mais estrada, resultam em paisagens maravilhosas.
    Parabéns.

    ResponderExcluir
  2. Boa sorte na sua rota de motocicleta que tudo ocorra bem

    ResponderExcluir