domingo, 26 de fevereiro de 2017

EXPEDIÇÃO ANDINA 2017 - PARTE 2




QUINTO DIA
Hoje é dia de descanso em Cusco.
Logo cedinho o amigo Juan Gaete já estava no hotel para nos prestar apoio.
Ele ligou para um amigo mecânico que logo depois já estava no hotel para substituir as pastilhas de freio dianteiro da minha moto.
Deixamos as motos no hotel e fomos andar pela Plaza de Armas para cambiar alguns dólares e comprar os tickets do trem que nos levaria a Machu Pichu.


São duas empresas que operam: a Peru Rail e a Inca Rail. Pesquisando os preços, vi que a opção mais barata era com a Inca Rail e fomos até a loja da empresa.
Para quem deseja chegar em Águas Calientes, cidade de onde se sobe para Machu Picchu, há várias opções:
A primeira e rodar até Santa Tereza e de lá até a hidrelétrica. São 120 km, sendo 98 asfaltado. Na hidrelétrica pode-se deixar as motos, pagando pelo estacionamento e caminhar cerca de duas horas até Águas Calientes. Esse trecho não percorri e repasso as informações de quem já o fez. É a opção mais barata.
A segunda opção é sair de Cusco em um trem que parte as 04:30h e demora cerca de quatro horas para chegar em Águas Calientes. O retorno é as 16:30h saindo de Águas Calientes.Também não percorri este trecho que custa mais de duzentos dólares ida e volta.
Outra opção é comprar um pacote turístico em Cusco ao preço de 245 dólares. Neste valor estão inclusos o deslocamento de van até Ollantaytambo e o retorno de lá, a passagem de ida e volta de trem até Águas Calientes, as passagens de van que te levarão até o topo da montanha Machu Picchu bem como o ingresso naquele local. É a opção mais cômoda mas você terá que sair de Cusco as 04h da manhã e retornar no mesmo dia. Em 2014 preferi está opção e me arrependi muito. Na volta a Ollantaytambo a van não estava no terminal ferroviário e tive que pagar uma passagem em outra condução, tipo táxi lotação, que transportava passageiros naquela estrada. O motorista não podia ver uma pessoa parada na beira da rodovia que reduzia a velocidade e gritava : "Cusco, Cusco". Devo ter ouvido Cusco umas cem vezes!!
Por último, a opção que preferimos. Ir de moto até Ollantaytambo e lá tomar o trem para Águas Calientes.
Bom, voltando à Inca Rail, compramos as passagens para o dia seguinte, domingo, no horário das 12:30 com retorno na segunda-feira, as 14:30h. Pagamos 121 dólares ida e volta por pessoa. Nos tickets já a reserva do vagão (coche) e o assento.
Um dos colegas que retornaria de Cusco para o Brasil optou pelo pacote turístico para ganhar tempo já que tinha passagem área marcada de Porto Velho para Boa Vista.
Continuamos andando pela Plaza e mais tarde tomamos um táxi até uma feira/mercado que vende de tudo, onde comprarmos três Jack Daniel's por 60 soles a garrafa.
Antes do retorno ao hotel almoçamos em um bom restaurante onde optei pelo Lomo de Alpaca enquanto outros colegas preferiram não arriscar em pedir algo inusitado.
O dia continuava muito frio, afinal estávamos a mais de 3.600 msnm e depois de comprar algumas lembranças em um grande galpão de artesanias, nos recolhemos ao hotel para tomar umas cusquenhas frias.
Rimos bastante quando dois amigos compraram a cerveja em um restaurante chique em frente do hotel e pagaram 12 soles cada. Nós andamos uns trinta metros e compramos a mesma cerveja a 3,50 soles em um mercadinho perto do hotel. No Peru, tem que se pechinchar muito. Alguns vendedores de artesanatos praticamente reduziam o preço pela metade. Um daqueles tradicionais gorro de lã começa com preço de 25 e cai para 10 soles.
À noite jantamos com o amigo Juan Gaete para botar a conversa em dia. O restaurante tem uma decoração interessante. São centenas de garrafas vazias presas no teto.

SEXTO DIA
Depois do café, ajeitamos as motos para partirmos rumo a Ollantaytambo.
Deixamos o hotel por volta das 08h30. Por um erro de atualização, meu GPS só tinha o mapa do Brasil. Falha minha que não ao mandar atualizar, não conferi.
Pedi ao Mauro o GPS dele emprestado já que era do mesmo modelo e serviria no suporte da minha moto. Contudo o dele também não estava atualizado e de vez em quando, dava um branco kkkkkk.
Já estive em Cusco em 2014 e conheço um pouco da cidade. Então, vambora!
Resolvi seguir o caminho pelo Vale Sagrado, região que ainda não conhecia.


Subimos montanha, descemos montanha e suas centenas de curvas com paisagens espetaculares. Valeu a pena rodar por ali.
Até Ollantaytambo são só 72 km mas o trecho e muito sinuoso e são necessárias duas horas para chegar lá. Apreciando a paisagem então, demora-se um pouco mais.
Chegamos em Urubamba e dali até nosso destino foi um pulo.
Ao chegar em Ollantaytambo, uma surpresa. Na entrada da cidadela (moradores afirmam que é a única cidade Inca habitada), acaba o asfalto e um leve subida é toda com pedras arredondadas, dificultando o acesso, principalmente naquele dia com chuvisco.
Passamos pela praça e fomos até o Hotel Tierra Inka Sacred Valley na Calle Turistas.
Chegando lá expliquei para a atendente que nós iriamos a Machu Picchu e retornaríamos no outro dia quando pernoitaríamos ali, onde inclusive já tínhamos reservas feitas. Depois de explicado, ela concordou que deixássemos as motos.
Abusamos. Retiramos tudo que estava amarrado nas motos, nossas roupas de cordura e botas e amontoamos em um canto da recepção.
Para levar, somente o essencial para uma noite em Águas Calientes.
Deixamos o hotel em dois Tuc Tuc até a estação ferroviária a pouco mais de um quilometro. Eu queria ir a pé mas fui voto vencido.
Na entrada da estação, muitos comércios de bebidas, comidas e artesanatos. Minha esposa não resistiu a um chocle com queijo (espiga de milho cozido), assim como os amigos. Fui logo avisando que se entrassem no trem comendo milho, eu diria que não conhecia ninguém kkkkk.

Logo depois já estávamos na estação esperando o trem que nos levaria até Águas Calientes em uma viagem de quase duas horas.





Algumas fotos e logo embarcamos. O trem deixou a estação no horário marcado. Meia hora depois o serviço de bordo nos servia chá de coca, café expresso e alguns biscoitos.

Duas rápidas paradas no caminho e chegamos à Águas Calientes. Desembarcamos e saímos da estação. Apesar de prometido pelo hotel, não encontramos ninguém para nos acompanhar. Paciência.....
Estrategicamente posicionada, logo na saída somos obrigados a passar por dentro de um galpão com dezenas de lojas que vendem jóias, artesanatos, roupas e outros objetos.
Estamos viajando de moto e isso é o suficiente para nos convencer a não comprar muitas coisas tentadoras.
Logo depois cruzamos uma pequena ponte e chegamos à Plaza de Armas. Perguntando, não foi dificil achar o hotel em que ficaríamos hospedados.
Logo que chegamos a recepcionista disse que um jovem do hotel tinha ido até a estação nos buscar mas nos desencontramos.
O hotel Gringos Bill (Calle Cola Raymi, 104 - tel. 51 8421 1046) de quatro andares tem está bem localizado e próximo de tudo. Aliás, em Águas Calientes, tudo é perto pois a cidade é pequena e fica espremida entre as montanhas (desconheço o autor da foto abaixo, razão pela qual não tenho como creditar a autoria).
Devidamente acomodados no hotel, fomos em busca de um local para almoçar. Encontramos o pequeno o com apenas um casal almoçando e decidimos comer ali.
Pedimos a tradicional Cusquenha bem gelada (para eles, bien fria) e como prometiam caipirinhas iguais às feita no Brasil, alguns resolveram apostar.
Depois de almoçarmos, pedi a conta. O garçom trouxe uma comanda manuscrita com tudo o que consumimos. Estranhei o valor e resolvi conferir cada item.
Para surpresa, entre os vários lançamentos, estava o Servicio de Mozo. Estranhei o valor de 50 soles e calculei as despesas. O serviço representava 22% de tudo que consumimos.
Questionei o garçom que me disse que era legal cobrar aquele percentual. Informei que no Brasil e em vários outros países o máximo cobrado era de 10%, onde se cobrava.
Alegou que não recebiam salários e por isso uma lei os amparava a cobrar aquilo.
Pedi onde estava a lei que eu queria conferir.
Disse que não estava escrita. Foi o que bastou para que eu resolvesse aloprar. Pedi a ele que chamasse a policia pois nós não iriamos pagar aquele absurdo.
Rapidamente ele pediu a nota de volta e refez os cálculos, cobrando 10% do total.
Pagamos mas ainda assim disse que iria fazer um comentário sobre a prática daquele local e postaria isso nas mídias sociais. Então, eis a foto do estabelecimento.

Um alerta: pesquise bem os preços em Águas Calientes. Se você não questionar, vão te explorar com certeza. A garrafa de água de 500 ml varia de 3 a 7 soles (quase oito reais!!).  Mais tarde em outro restaurante, antes de consumir, pedi qual era a taxa de serviço e me disseram que variava entre 15 e 20 por cento. Negociei e pagamos somente 10%. Tudo tem que ser pechinchado rsrs.
Ainda nesta tarde fomos até o quiosque para comprar as passagens de van para Machu Pichu. Ali você tem a opção de comprar apenas um trecho se quiser ir ou voltar a pé. Custa trecho custa 12 dólares, ou seja, lá se foram mais 24 dólares por pessoa.
No local várias pessoas se oferecem como guia para te apresentar as ruínas de MP. Os preços também variam um pouco.
O primeiro que se apresentou pediu-nos 150 soles para guiar o grupo de seis pessoas. Disse que não e consegui outro por 100 soles. Marcamos dele nos buscar no outro dia as sete horas no hotel.
Lembrando que o câmbio era de 0,93 soles para um real, ou 3,35 soles por dólar.
Acertado isso, fomos até o Centro Cultural na Plaza de Armas para comprar a entrada de Machu Pichu.
A opção para visitar apenas MP custava 152 soles por pessoa. Para visitar Wayna Picchu seria necessário mais 48 soles.
Contudo, entradas para Wayna Picchu estavam esgotadas e fomos informados que teríamos que reservar com três meses de antecedência.
Fiquei chateado pois em 2014 quando ali estive, não visitei Wayna por que estava mal (mal da montanha me deixou uns três dias zonzo).
Depois de mais algumas fotos pela praça, nos recolhemos ao hotel.

SÉTIMO DIA

Logo cedo o guia nos aguardava no hall do hotel para seguirmos à Machu Picchu.
Choveu à noite e o tempo estava nublado. Vamos torcer para melhorar.
Tomamos a van e meia hora depois chegamos na entrada do Parque. Algumas fotos e passamos pelo controle de entrada, apresentando o passaporte e o ticket de acesso.



Foi uma grande alegria retornar a Machu Picchu. Estive lá em 2014 mas confesso que não aproveitei bem pois estava mal, o Soroche tinha me pegado  três dias antes e nem folhas de coca deram jeito no mal estar.
Como já citei anteriormente, visitar MP sem um guia, é o mesmo que olhar para um monte de pedras e não entender nada. O guia te mostra os pontos interessantes com explicações detalhadas da razão daquilo estar ali, ou ter sido construido daquela forma.
É impressionante a precisão de algumas construções em relação à posição do sol, dentre outros detalhes. Só indo lá para entender.
Enquanto o guia permaneceu com o Arlindo, Marluce e Nilva, eu, Mauro e Marcus fomos visitar Wayna Picchu (ou Huayna Picchu). Com o famoso jeitinho brasileiro tínhamos conseguido as entradas por 50 soles cada uma.
Entramos pelo portão de acesso à montanha e registramos o nome no livro de controle.
Iniciamos a aventura. Deixamos os 2.300 metros para subir até 2.800 msnm.
O trajeto começa com uma pequena descida por escadarias de pedra para chegar até a montanha ao lado.
Aí começa o desafio de subir quase dois mil degraus. Esculpidos na própria rocha, estes degraus não possuem um padrão. Muitos são largos, permitindo a passagem de duas ou mais pessoas e outros são tão estreitos que mal passam uma pessoa.
Da mesma forma, a altura deles variam muito, dificultando  ainda mais a subida.
Nos locais mais perigosos, à beira do precipício, um cabo de aço serve de apoio para uma das mãos.
Paramos uma dezena de vezes. A subida é cansativa, aliada à altitude e falta de preparo físico do trio.
Uma hora depois chegamos no alto e para decepção, o tempo estava com carregadas nuvens sobre a montanha, não permitindo visualizar Machu Picchu.





Tiramos algumas fotos e esperamos quase uma hora. O tempo não melhorou e iniciamos a descida até MP.
Quarenta minutos depois reencontramos o restante do grupo na entrada do Parque. Nos dirigimos até uma tenda e aproveitamos para carimbar o passaporte com o selo de Machu Picchu e assim registrar nossa passagem pelo local.
Nos despedimos do guia e tomamos a primeira van para retornar à Águas Calientes pois nosso trem partiria as 14:30h.
Almoçamos em um restaurante da praça  e depois de retirar a bagagem no hotel, fomos até a estação ferroviária, passando novamente por dentro do galpão com dezenas de quiosques e compramos algumas lembrancinhas (pela falta de espaço nas motos não dá pra exagerar nas compras rsrsrs).
Como sempre, o trem partiu no horário e por volta das 16h chegamos em Ollantaytambo debaixo de uma fria chuvinha.
Eu queria voltar a pé até o hotel mas parte do grupo decidiu tomar um táxi, no caso, os tuc tuc.
Nilva, Arlindo e Marluce foram em um e eu, Mauro e Marcus tomamos outro.
Cem metros depois nosso "táxi" deu pau na subida da rua e tivemos que descer. O outro tuc tuc já tinha sumido na frente.
Decidimos então ir a pé, afinal faltava um quilometro apenas.
Quando chegamos no hotel Tierra Inka, o restante do grupo não tinha chegado ainda. Decidi voltar a pé até a praça pois imaginei que o motorista/piloto não tinha encontrado o hotel.
Dito e feito. Cheguei na praça e minha esposa, Arlindo e Marluce estava lá. O piloto alegou não saber onde ficava o hotel (Ollantaytambo é uma cidade imensa kkkkk) e deixou o grupo na praça.
Boas risadas enquanto todos voltavam à pé para o hotel debaixo da chuva.
Enquanto nos registrávamos, fui informado que o hotel só tinha um aquecedor e que um dos colegas já  tinha se garantido.
Não achei legar a atitude mas não vou discutir por isso. Justo teria sido fazer um sorteio para ver qual dos três apto seria o contemplado.
O dia tinha sido muito cansativo para todos e decidimos descansar.
Aproveitando o frio, secamos o restante de um Jack Daniel's Honey que o Marcus tinha comprado em Cusco.

OITAVO DIA

Com as motos já equipadas, foi necessário uma chupeta na moto do Arlindo que esqueceu a luz de estacionamento ligada desde o dia anterior.
Resolvido o problema, deixamos o hotel e Ollantaytambo retornando até Urubamba.
Dali, tomamos a rodovia à direita, seguindo para Cusco onde chegamos quase duas horas depois pois a estrada estava  com muito movimento e a chuvinha persistia.
Nosso destino do dia era Puno, às margens do Lago Titicaca. A idéia era passar direto por Cusco mas, o GPS com problemas fez com que eu me enrolasse na rodovia em obras e entramos na cidade onde demoramos mais de meia hora para conseguir sair.
Coisas que acontecem.
Logo depois já estávamos em Urcos.
Passamos por Juliaca rapidamente e chegamos no ponto mais alto deste trecho. O Passo La Raya que no Peru é conhecido como Abra la Raya está a 4.338 metros sobre o nível do mar (msnm).

Para variar, nuvens carregadas adiante indicavam chuva e não demorou. Lá veio ela com vontade acompanhada de granizo do tamanho de bolas de gude. Neste momento a precaução manda reduzir a velocidade e se for o caso até parar em um local seguro. Felizmente a chuva passou e seguimos adiante.
Por volta das 15 horas chegamos em Puno onde nos hospedamos no Hotel Hacienda Plaza de Armas, na Calle Jr Puno  419-51 (tel 51 51367340) em frente da praça.
O estacionamento do hotel fica distante duas quadras e depois de descarregar as motos, tivemos que levá-las até o local.


No próprio hotel adquirimos o pacote turístico para visitar as ilhas flutuantes sobre o lago. Há diversos pacotes e compramos àquele que dá direito a transporte até o porto, deslocamento de lancha e visita às comunidades Uros. O passeio de quatro horas custou 63 soles por pessoa e foi marcado para o dia seguinte.

NONO DIA

Depois de um bom café da manhã e com um atendimento muito atencioso do chef, o presenteamos com uma camiseta do nosso moto clube, o que o deixou muito feliz.
Deixamos as bagagens em um depósito do próprio hotel e por volta das oito horas tomamos o ônibus que nos levaria até o porto.
As ruas estreitas de Puno atrasou a chegada pois passamos em outros dois hotéis para buscar turístas.
No porto há uma padronização de embarcações que navegam até as ilhas flutuantes.
O guia fez a apresentação de praxe com as normas de segurança e partímos.
Vinte minutos depois já entrávamos por um canal. Nos dois lados cresce  a totora, uma espécie de junco que é abundante sobre o lago e de onde os nativos a retiram para construir suas ilhas, embarcações e casas.

Depois descobriríamos que inclusive parte do junco é comestível. Confesso que não tem gosto de nada, mas.....
Neste canal, um posto de controle da comunidade obriga o guia a informar a quantidade de passageiros (acho que é para controlar a arrecadação do dinheiro).
Passamos ao largo de várias ilhas até chegarmos a uma delas. O guia nos ensinou algumas palavras no idioma local, que só serviu para àquele momento. Já esquecemos as cinco palavras ensinadas.



A visita começa com explicações do presidente da ilha. Isso mesmo. Cada ilha é ocupada por uma família e o chefe é o presidente.
Ele explicou como  constroem as ilhas, as casas e as embarcações.
Depois convidou-nos a visitar sua casa e vestir os trajes típicos deles.
Até que fiquei bonitinho mas tive que aguentar a gozação dos amigos que viram as fotos depois.



 Da esquerda para a direita só a macharada. Arlindo, Marcus, Mauro e eu.
Compramos alguns artesanatos locais e fizemos um passeio em um barco típico que custou dez soles cada e nos levou até a ilha capital para mais fotos e uma deliciosa truta fresquinha.



Mais uma vez ressalto a importância de um guia local.
Há pacotes baratos de até 20 soles, sem guias para visitar las Islas Flotantes dos Uros.
Particularmente, prefiro pagar um pouco mais e conhecer bem a história das pessoas e do local.
Retornamos ao hotel por volta das 14 horas, muito satisfeitos com o passeio.
Rapidamente arrumamos a bagagem nas motos e partimos.
Como alguns não quiseram passar por Copacabana, seguimos rumo à Desaguadero, fronteira com Bolívia a pouco mais de cem quilometros.

Passamos por Chucuito, Acora, Llave, Juli, Zepita e chegamos na fronteira por volta das 16h.
A idéia era abastecer no Peru para evitar  os problemas de abastecimentos à estrangeiros na Bolívia.
Mas, a estrada nos levou até a  Aduana e o posto ficava em outra rua. Assim, deixamos a idéia  de lado.
Fizemos o trâmite de saída na Imigração e depois fomos até a Aduana dar a saída das motos. Encontramos outros três brasileiros do Rio Grande do Sul com GS 1200 que estavam fazendo a entrada no Peru.
Pareciam estar com pressa e não tivemos tempo para conversar.
Feita a papelada, fomos até as motos para atravessar e um sujeito nada simpático, escorado sobre uma cancela disse que teríamos que pagar cinco soles cada moto para sair do país.
Questionei a razão e me disse que era por ter usado as vias de Desaguadero.
Atravessamos o Peru e nunca pagamos nada. Agora, justamente no pior trecho, todo esburacado, tivemos que "morrer" com cinco soles.
Pagamos e guardei o ticket de lembrança. Atravessamos a fronteira e a fila da imigração boliviana era imensa.
 
Quase uma hora depois fomos liberados para entrar e nos dirigimos à aduana para fazer a importação temporária das motos.
Já estava escurecendo e decidimos pernoitar na cidade.
Enquanto a turma fazia a papelada na Aduana, rodei pela cidade e encontrei uma hospedaje com cochera.
Retornei na fronteira e conduzi o grupo até o local.
A janta foi pollo con papa frita que estava nadando no óleo mas já tínhamos visto que não dava pra exigir muito por ali.
Voltamos a pé até o Peru (cerca de uns 700 metros) para cambiar alguns dólares.
Impressiona a quantidade de gente transportando de tudo do Peru para a Bolívia. Era fogão, geladeira, cebola, frutas.......Tudo em cima de carrinhos puxados por um ou dois homens.
Em frente da Imigração Peruana tem várias tendas plásticas na rua com cambistas. Atrás delas descobrimos que há casas de câmbio com taxas melhores e aproveitamos para trocar os soles restantes bem como comprar o boliviano, a moeda da Bolívia. Não que aceitem reais por aqui, mas comparando, são quase dois bolivianos por um real.


DÉCIMO DIA

Por volta das oito horas todos já estavam acordados e decidimos seguir viagem.
Preparamos as motos e nos preparamos para deixar a cidade de Desaguadero com o tempo indicando chuva.
Para sair da cidade e "pegar" a rodovia, tivemos que passar por um trecho de aproximadamente 300 metros sem asfalto e cheio de poças de água e lama.
Retomamos a carretera 1 rumo à La Paz. Passamos por Guaqui onde resolvermos abastecer.
Ai começou o problema de combustível na Bolívia.
Para melhor compreensão do problema, esclareço: Na Bolívia, eles praticam dois preços. Um pra eles, os chamados nacionais onde a gasolina custa cerca de 3,78 bolivianos e outro para estrangeiros que custa 8,84 bolivianos, ou cerca de 4,40 reais o litro.
Ocorre que para abastecer estrangeiros eles tem que lançar os dados do cliente e da moto no sistema e depois de abastecido, informar um órgão de controle do país. É muita burocracia.
Então quando você chega na Estacion de Servicios, eles preferem alegar que o sistema está fora do ar para não te vender gasolina.
E assim foi conosco. Encostamos as motos na bomba e o frentista olhou as placas das motos. Em seguida disse que o sistema estava fora do ar.
Sabendo que era golpe dele, disse-lhe que íamos esperar pois não tínhamos gasolina para seguir adiante (na verdade até tínhamos). Ele pediu para tirarmos as motos da frente da bomba e eu disse que não. Elas iam ficar alí até o sistema voltar.
E assim fizemos. Sentamos na calçada  e comemos um pacote de amendoins comprado na fronteira na noite anterior.
Tentei fazer ele abastecer como se fossemos bolivianos. Pagaríamos o preço de estrangeiro. Não o convenci. Então esperamos......
Quinze minutos depois "o sistema voltou" e ele abasteceu as motos. Pagamos e seguimos viagem.
Chegamos em Tihuanaco, local onde também há muitas ruínas, semelhantes à que vimos na região de Cusco pelo Vale Sagrado até Machu Picchu.
Seguimos adiante e em Lajas tomamos uma estrada para Viacha já que não iríamos até La Paz. Ai a coisa complicou.
Estávamos sem GPS e não havia uma placa indicando o caminho para Oruro. Como estava liderando o grupo, tomei uma estrada e rodamos uns vinte quilometros até perceber que ali não era o caminho.
Parei para perguntar à moradores e fui informado que se pegasse uma estrada de rípio com trinta quilometros conseguiria chegar à Carretera 1 e de lá seguir para Oruro, nosso destino do dia.
Por mim tudo bem mas o grupo decidiu voltar e percorrer o trecho pelo asfalto.
Já p.... da vida pelo atraso, contratei um taxista por 40 boliviamos que nos levou de volta à Viacha e de lá, como eu previa, foi cortando caminho pela cidade (sem nenhuma placa de informação) e nos deixou perto da autopista.
Dali pra frente seguimos pela Carretera 1 até Patacamaya e de de lá retornamos para a 1.
Passamos por fora de Oruro por volta das 09 h e tomamos a Carretera 30 rumo ao Uyuni. Esta rodovia é relativamente nova, tendo sido construida depois de 2014 pois quando ali estive, ainda era de rípio.
Há outra rodovia que leva até Potosi e de lá ao Uyuni, trecho que fiz em 2014.
Pois bem, a estrada é nova e impecável, permitindo  boa velocidade nos seus 320 km até o Uyuni.
Passamos por Machacamarca, Challapata, Santiago de Huari, Chita e Colchani onde paramos para reabastecer. Estranhamente, o dono do posto, todo sorridente, nos disse que podíamos abastecer com preço de boliviano sem nenhum problema. Então, vamos encher.
Vinte quilometros antes de chegar na cidade de Uyuni, avistamos a placa indicando o Salar a cinco km à nossa direita.
Seguimos adiante pois íamos deixar o Salar para o dia seguinte.
Ao entrar na cidade, paramos o primeiro posto que vimos e pedimos gasolina "sin factura". A atendente nos disse que custaria 7 bolivianos. Sem  problema, enchemos o tanque.
Um quilometro à frente encontramos o Hotel La Mana na praça principal e ali nos hospedamos. O local era simples mas tinha uma boa garagem e estava bem localizado.
Combinamos sair à noite para jantar em um restaurante de um motociclista mas a turma se dispersou.
Acabei indo apenas eu com minha esposa.
O ambiente era agradável e com bom atendimento. Aproveitamos para comer uma bela pizza.

DÉCIMO PRIMEIRO DIA

Saímos por volta das 08:30h para conhecer o Salar de Uyuni. Como já mencionei anteriormente, estive ali em 2014 no mês de abril quando tudo estava seco. Minha idéia era retornar quando o salar estivesse coberto de água. E aqui estamos então.
Da cidade até o salar são apenas 18 km de asfalto e outros cinco de terra.
Com as chuvas nesta época, este pequeno trecho fica cheio de buracos e poças de lama.
Logo estávamos na beira do salar e andamos sobre o sal coberto pela água para tirar muitas fotos. O cenário é deslumbrante.


Depois de algum tempo decidimos ir até um dos hotéis de sal no meio do salar e pagamos vinte bolivianos por pessoa para ir na carroceria de um velho caminhão Ford. Sem nenhum conforto, sentado sobre blocos de sal que serviam de pequenos bancos.
Este hotel fica à aproximadamente quatro quilometros da borda e ali tem um monumento ao Rally Dakar além de bandeiras de vários países, inclusive do Brasil, com seus mastros cravados no sal.

Depois de muitas fotos retornamos ao local onde havíamos deixado as motos.




Convidei a turma para fazer o trecho novamente mas desta vez com as motocicletas.
Somente o Marcus topou. E lá fomos eu, minha esposa Nilva e o Marcus.


É incrível a sensação de pilotar sobre uma lâmina de água por vários quilômetros.
Passamos pelo caminhão que desta vez levava alguns motociclistas argentinos e que vibraram com nossa passagem a mais de 100 km/h jogando água e sal pra todo lado.
O retorno foi mais lento para apreciar melhor o cenário.
Quando chegamos na borda, nós e as motos estávamos brancos, cobertos de sal.
Com o calor do motor, formou-se uma crosta de sal sobre as partes quentes e fiquei preocupado.



É incrível a sensação de pilotar sobre uma lâmina de água por vários quilômetros.
Passamos pelo caminhão que desta vez levava alguns motociclistas argentinos e que vibraram com nossa passagem a mais de 100 km/h jogando água e sal pra todo lado.

O retorno foi mais lento para apreciar melhor o cenário.
Quando chegamos na borda, nós e as motos estávamos brancos, cobertos de sal.
Com o calor do motor, formou-se uma crosta de sal sobre as partes quentes e fiquei preocupado.
Esta preocupação se confirmou logo depois.
Depois de rodar uns três quilômetros, a luz da temperatura do motor se acendeu. Nunca tinha visto ela acesa.
Logo imaginei que o sal cobrira as colméias do radiador e a solução seria uma lavagem geral.
Resolvi arriscar e pilotei até a cidade com a luz no vermelho. Estávamos no deserto, não havia outro lugar pra conseguir água.
Logo na entrada da cidade tinha um autolavado. 
Entramos nele enquanto o Arlindo e Marluce e Mauro seguiram para o hotel. Nilva aproveitou uma carona e foi junto com o Mauro.
Pedimos o proprietário que lavasse as motos e ele disse que já teve problemas com outras motos grandes e por isso não lavava mais.
Como o nome dizia, era um  autolavado . Ou seja, lave você mesmo.
Pagamos trinta bolivianos por motos e lavamos as motos. Tinha sal por todos os lugares.
Depois de uma hora retornamos ao hotel com as roupas impregnadas de sal mas felizes da vida.

No hotel rolou um pequeno estresse com a proprietária que queria nos cobrar outra diária pois retornamos por voltas das 13h. Ela disse que a diária se encerrava as dez horas.
Discutimos bastante e não pagamos nada. Carregamos as bagagens e deixamos o Uyuni por volta das 14h depois de novamente abastecer no posto sin factura, pagando sete bolvianos por litro de gasolina.
Retornando pelo mesmo caminho ou seja, pela Ruta 30 até Challapata e de lá pela Ruta 1 até Oruro percorrendo 315 km.
A viagem transcorreu sem maiores problemas e chegamos em Oruro por volta das 18h.
Como a idéia era pernoitar na cidade onde estive em 2014, busquei o Hotel Monarca na Avenida 6 de Agosto, 1145, bem na esquina com Av. Ejército Nacional (tel. 52 54300 e cel. 717 84888).
Oruro com  340 mil habitantes é conhecida como Capital del Folklore de Bolívia e o carnaval é famoso.
Enquanto tirávamos a bagagem, um trem cargueiro passou pelos trilhos no meio da  avenida, parando todo o trânsito. Cena inusitada pra nós.
Depois de nos alojarmos, saímos para percorrer a pé algumas ruas da cidade e aproveitamos para jantar uma parillada (mistura de carnes bovina, suina e de frango) acompanhada de arroz e batata frita.

DÉCIMO SEGUNDO DIA

Depois de um café fraquinho no próprio hotel, retiramos as motos da apertada garagem e deixamos a cidade.
De Oruro a Cahuasi tomamos a Ruta 12 para então tomar a Rua 4 para Cochabamba rodando outros 215 quilometros.
Este trecho foi cansativo. Além da altitude de quase cinco mil metros acima do nível do mar, pegamos muita chuva com frio extremo.
Vários trechos estão sendo duplicados e tivemos que rodar por muitos desvios de terra compactada.
Chegamos em  Cochabamba  e  nos hospedamos. A garagem do hotel era no quarteirão seguinte e deixamos as máquinas protegidas.
 Descobri que "tenho" uma panificadora em Cochabamba kkkkkk.


Aproveitamos o restante da tarde para conhecer  a bela cidade e comer uma bela pizza em um dos muitos restaurantes.

DÉCIMO TERCEIRO DIA DE VIAGEM

Com o frio típico da cordilheira, dormimos até as oito horas.
Tudo pronto, deixamos a cidade para percorrer mais 480 km até Santa Cruz de la Sierra.
Logo na saída da cidade, novamente tivemos problemas com reabastecimento.
Paramos em um posto que se recusou a nos fornecer gasolina alegando que não tinham a autorização na agência reguladora.
Percebi que era o tradicional golpe e tentei argumentar sem sucesso. Mandei chamar o proprietário que não estava no local. Pedi então que chamassem a polícia pra resolvermos a bronca mas não atenderam meu pedido.
Enquanto díscutíamos, uma jovem foi abastecer um veículo ao lado. Imagino que era novata pois ligou a bomba com o gatilho aberto e me deu um banho de gasolina.
Aí foi a gota d'agua, ou de gasolina kkkkk. Muito p... da vida pedi que abastecessem as motos que iríamos embora. Do contrário, queria uma jaqueta nova pois a minha estava pendurada escorrendo gasolina.
Confesso que usei isso pra conseguir a gasolina. Jamais ia cobrar da menina uma jaqueta nova.
Depois de alguns minutos, a solução encontrada foi encostar as motos ao lado e abastecer gasolina em um saco plástico e de lá transferir para os tanques das motos.
Cena ridícula. Não podiam abastecer as motos mas podiam encher o saco plástico e de lá transferir para as motos que estavam a menos de cinco metros da bomba.
Repetíamos a operação umas oito vezes até enchermos todos os tanques e pagamos o preço nacional.
Com o novo perfume, vesti a jaqueta e deixamos Cochabamba pela Ruta 4.
A partir de Cochabamba pode-se tomar também a Ruta 7.
Três horas depois, margeando o Parque Nacional Carrasco, chegamos na Villa Tunari com 160 km rodados. Este trecho ainda tem muitos locais com obras na Cordilheira que somado às muitas curvas, atrasa bastante a viagem.
Paramos em um posto de gasolina mas fomos informados que não tinham combustível. Acreditem pois o posto estava fechado. Nos indicaram um posto logo mais à frente e lá fomos nós.
Quando chegamos no local, havia uma fila imensa.
Estacionamos as motos e fui falar com uma moça que sozinha abastecia motos e carros, correndo de uma bomba para outra.
Enquanto abastecia um carro, disse que não podia nos fornecer gasolina. A velha história de sempre na Bolívia.
Aloprei de novo  e ela chamou um senhor franzino que era o dono do posto.
Expliquei tudo de novo e pedi que respeitassem os turistas brasileiros. Aleguei que bolivianos quando vão ao Brasil são tratados como se fossem brasileiros e não entendia porque nos descriminavam na Bolívia.
Por fim sugeriu que comprássemos um galão em uma loja do outra lado da rodovia e assim nos abasteceria ao preço boliviano.
O Mauro atravessou a rua e comprou um recipiente de cinco litros.
Entre um e outro abastecimento de carro a moça enchia nosso galão sob protesto de alguns motoristas que estavam na fila.
Nesse meio tempo chegaram outros três motociclistas de Salvador fazendo o percurso contrário ao nosso e aproveitaram nosso galão para encher o tanque das suas motos também.
Depois de meia hora as motos estavam reabastecidas e partimos rumo à Chimore, Ivirgarzama, Entre Rios e Montero onde chegamos depois de mais cinco horas de estrada.
Estamos descendo a Cordilheira rumo ao Mato Grosso do Sul e alguns trechos da rodovia apresentam buracos e outros com pavimento de pedra arredondada, sem asfalto.
No caminho havíamos parado para completar o tanque com a gasolina que tínhamos nos galões.
Mais 65 km e chegamos à surpreendente Santa Cruz de la Sierra. Bonita, ruas amplas e bem sinalizadas.
Não demoramos a achar o hotel Continental Park na Av Cañoto, 289, esquina com Junin e toll free 800101646.
Preço salgado (em torno de 200 reais) mas merecíamos um bom pernoite depois de vários estresses naquele dia.
Nota: Fiquei chateado com um motociclista da cidade que dias antes vinha prometendo apoio quando chegássemos em SC de la Sierra.
No dia anterior, pedi pelo whatsapp que reservasse um hotel para nós e ele me mandou um print do Booking.com.  Não era oque eu queria.
Quando chegamos em SC entrei em contado com ele para ver se poderia nos mostrar a cidade e ele disse que estava em uma reunião com sua mãe e não sabia que horas sairia.
Desisti mas fiquei chateado pois quando alguém me pede apoio em Boa Vista, Roraima, vou na entrada da cidade buscá-lo e geralmente o hospedo em minha casa, dentre outras formas de ajuda.

DÉCIMO QUARTO DIA DE VIAGEM

Arlindo vinha reclamando que sua Triumph 1200 estava "puxando" para um lado depois de ter estourado um retentor da bengala em um buraco. Como estava vazando óleo, resolvermos visitar a concessionaria na cidade.
A área central da cidade é formada por várias avenidas em forma de anéis e a recepcionista do hotel nos disse que a concessionária Triumph ficava na Av. El Cristo Redentor entre o terceiro e quarto anel.
Não foi difícil encontrar (lembro que estávamos sem GPS).
Prometeram trocar o retentor em duas horas (tinham o retentor na loja).
Enquanto faziam o serviço eu, Mauro e Marcus fomos até a Harley Davidson e a BMW para comprar algumas peças.
Ao voltarmos na Triumph a motos já estava pronta e lavada e assim retornamos ao hotel por volta das 13h.
Rapidamente ajeitamos as malas e saímos da cidade, nos enrolando mais uma vez com as ruas. Perdemos meia hora e mais uma vez pagamos um taxista para nos levar até próximo da saída da cidade.
Paramos em um posto e nos abasteceram como estrangeiros sem problema.
Santa Cruz de la Sierra nos surpreendeu positivamente. Nem parece parte da Bolívia.
Decidimos pernoitar no Brasil e aceleramos pois serão 640 quilômetros até a fronteira.
A Ruta 4 estava com pavimento perfeito e passamos por San Jose de Chiquitos, Chochis e chegando em Roboré, decidimos comprar gasolina em algumas casas pois não havia indicação da distância até o próximo posto.
Uma garotinha com não mais de dez anos nos levou até uma casa e lá chegando só tinham quatro litros para vender. Desistimos e retornamos pela estradinha de areia. O Marcus se empolgou e derrapou, caindo e quebrando o suporte de um baú lateral. As cintas com catracas demonstrarem mais uma vez sua utilidade. Depois de amarrar o baú, até retornar ao asfalto.
Cinco quilômetros depois chegamos em Roboré!
Já estava escuro e chovendo quando chegamos em Puerto Suárez. Entramos na cidade e não encontramos nenhuma sinalização que indicasse a fronteira.
Parei em um bar e perguntei onde era alguns jovens bêbados me disseram que teria que ir até Puerto Quijarro mais à frente.
Rodamos mais uns cinco quilômetros e avistamos a fronteira. Serve de alerta. A saída da Bolívia não é em Puerto Suares e sim em Puerto Quijarro.
Atravessamos a fronteira sem nos deter pois já eram 21 horas e a aduana certamente estava fechada.
Deixaríamos para fazer a papelada no dia seguinte e assim entramos no Brasil.
Rodamos mais uns cinco quilômetros e chegamos em Corumbá.
O primeiro hotel estava lotado.
Mais à frente encontramos o Hotel Santa Rita (Rua Dom Aquino Correa, 860 tel. (67) 3231 5453)  a módicos 100 reais a diária e ali ficamos.
Mal tiramos as malas e acomodamos no quarto, saímos com a mesma roupa molhada da viagem para comer um lanche na praça. Acho que era o único estabelecimento aberto naquele horário. 
Barriga cheia, hora de descansar.

DÉCIMO QUINTO DIA DE VIAGEM

continua......

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

EXPEDIÇÃO ANDINA 2017 - PARTE 1

Esta viagem foi planejada em meados de 2016 e a idéia, a princípio, seria partir de Boa Vista, Roraima com destino à Venezuela, Colômbia, Equador, Peru, retornando ao Brasil pelo Acre.
Contudo, as fronteiras entre Venezuela e Colômbia estão fechadas  desde agosto de 2015 e sem previsão de reabertura. Aliás, este fato não é de conhecimento de muitos motociclistas que acabam vindo para a região e não conseguem fazer legalmente a travessia entre os dois países.

Constantemente repasso esta informação à colegas viajantes mas ainda assim alguns não acreditam e resolvem ariscar. Infelizmente acabam voltando.
Quando planejamos a viagem, havia a expectativa de reabertura da fronteira mas isso não aconteceu. Em razão disso, partimos para o plano B. Antes que alguém pergunte, demos o nome de Expedição Andina pois rodaremos mais de dez dias sobre a Cordilheira dos Andes, um grande desafio.
Esse plano previa o envio das motos em caminhão até Porto Velho/RO uma vez que a BR 319 entre Manaus e Porto Velho está intransitável nesta época do ano devido às chuvas torrenciais na região.
Do mesmo modo, o plano previa partirmos de Porto Velho para Rio Branco e de lá para a fronteira com o Peru e depois Bolívia, visitando Machu Picchu, Lago Titicaca e Salar de Uyuni, retornando pelo Mato Grosso do Sul.
E assim fizemos.
Quinze dias antes do Natal de 2016 carregamos as cinco motos (duas BMW 1200 com Marcus, Prola e Ednelma, uma Triumph 1200 com Arlindo e Marluce, eu e a Nilva com uma BMW 650 e o Mauro em uma Harley Davidson) em uma carreta que rodou até Manaus e de lá seguiu em cima de uma balsa até a capital rondoniense. Ao todo, foram quase quinze dias, tendo as motos chegado no dia 28 de dezembro.

SEGUNDO DIA
Partimos dia 02 de janeiro de Boa Vista em vôo da Azul até Porto Velho onde chegamos à noite e nos hospedamos no Hotel Nativo (Av. Marechal Deodoro, 2711 - tel 069 3221 5244) pertencente ao motociclista Zezinho.
A viagem até Machu Picchu contará com três casais e outros dois "solteiros". De lá, um casal retornará a Porto Velho e os demais seguirão viagem.
Na manhã seguinte, fomos até a transportadora buscar as motocas e a tradicional "chupeta" foi necessária pois duas motos não tinham carga na bateria suficiente para a partida.
Resolvido o problema, voltamos ao hotel para carregar a bagagem. Mais tarde foi necessário trocar a bateria da moto do Marcus pois ela continuava sem carga.
A expectativa era grande pois, do grupo, somente eu já tinha rodado pelo Peru e Bolívia em 2014.

SEGUNDO DIA
O dia amanheceu ensolarado e depois do café, partimos de Porto Velho tomando a BR 364 com destino à Rio Branco, Acre.
A estrada em boas condições nos leva por Jaci-Paraná até Abunã, onde temos que tomar uma balsa para cruzar o Rio Madeira.
A ponte já está sendo construida e acredito que até o final do ano já esteja pronta, aposentando as balsas que hojem cobram R$ 15,00 pela travessia de motos.
Desta vez a Harley não "pegou" e enquanto fazíamos a travessia em cima da balsa, aproveitamos para outra chupeta usando a bateria de um carro ao lado.
Do outro lado do rio, continuamos rodando em Rondônia (alguns pensaram inicialmente que já era o Acre) e abastecemos em Nova Califórnia onde almoçamos.
Na saída da balsa, o primeiro incidente com um dos colegas perdendo o equilíbrio e deixando a moto tombar para o lado. Nada grave. Apenas a gozação depois do susto.
Continuamos na estrada alguns quilômetros depois entramos no Acre.
Ali uma placa indica que à esquerda  é a Estrada do Pacífico e seguindo reto pela BR 364 iremos para Rio Branco, nosso destino daquele dia.
Chegamos em Rio Branco por volta das 16h depois de rodar 530 kms e enquanto estávamos descarregando a bagagem no João Paulo Hotel (Av. Ceará, 2090 - tel. 68 2106 8900), um motorista parou o carro e veio conversar conosco e nos convidou para ir ao seu bar, o Rota 606, à noite, onde estariam apresentando a nova moto BMW 700.
Convite aceito, sai junto com o Mauro à procura de uma oficina recomendada e que ficava perto do hotel.
Localizamos facilmente a oficina do Zeca e não teve jeito, outra bateria a ser trocada.
Aliás durante conversa com o Zeca, ele informou que faz socorro de motos inclusive no Peru. Então é bom os aventureiros anotarem o telefone dele: 068 99205 5162 (dias depois precisamos e já conto como foi).
À noite fomos conhecer o Route 606 onde interagimos com vários motociclistas da cidade e conhecemos a nova BMW 700. Confesso que não gostei da moto: é uma mistura da 650 com a 800. Falta personalidade própria eheheh.

TERCEIRO DIA

Partimos por volta das 08 horas, deixando Rio Branco e tomando esburacada BR 317 que nos levou por Senador Guiomard e Capixaba, Brasiléia, ao ladinho da Bolívia e passamos próximo de Xapuri, a terra de Chico Mendes.
Ali a gasolina custa R$ 4,28 no posto localizado no entroncamento da BR317 com a rodovia que segue para Xapuri.

Era quase meio dia quando demos saída rapidamente no passaporte em Assis Brasil, 320 kms de Rio Branco.
Interessante e diferente do habitual. Aqui você passa pela imigração e dá saída do país. Logo depois, antes de chegar ao Peru, você passará por Assis Brasil. Como não tínhamos nada pra fazer na cidade, seguimos para a fronteira.
Parada rápida para fotos nas tradicionais placas mostrando a divisa e lá fomos nós. Atravessamos a pequena cidade de Inhapari, já no Peru e chegamos na aduana e imigração.
Aqui cabe um esclarecimento sobre os procedimentos.
Quando você chega, o primeiro passo é ir até a imigração onde se preenche um formulário que será entregue ao agente de imigração junto com o passaporte. Importante mencionar neste formulário que você está indo a lazer ou turismo pois quer for à trabalho, pagará um adicional de 18% a título de IVA em alguns locais como hotéis por exemplo.
Esse formulário será exigido nestes locais, a fim de conferir esta informação.
Tendo dado entrada na imigração, é hora de ir até o Sunat ou aduana para dar entrada da moto.
Importante ressaltar que em viagens internacionais você deve levar os documentos originais e também cópias extras. Cópias do passaporte, da CNH, do documento da moto serão necessários(eu, particularmente, prefiro levar cópias a mais. Certa vez no Equador, tive que rodar 15 km pra tirar uma xerox, mas esta é outra história).
Também sempre levo a PID - Permissão Internacional para Dirigir e o cartão de vacina da febre amarela. Vai que pedem......
Pois bem, voltando à realidade, o agente do Sunat tinha ido almoçar e esperamos uma hora para o retorno dele.
Ali nos pediram estas cópias e também uma cópia do ticket da imigração que tiramos no bar ao lado..
Outro agente foi conferir placa e chassi das motos e logo depois outro formulário foi emitido e parte dele nos foi entregue com o lembrete que seria necessário entregá-lo na saída do país.
Até tentamos adiantar o seguro de terceiros, o conhecido SOAT, mas a funcionária da seguradora disse que só poderia fazer depois que déssemos entrada no SUNAT.
Informação importante também. Ao lado do SUNAT tem um bar onde é feito o câmbio de dólares ou reais para soles, tira-se xerox e se faz o SOAT. Tem até bebidas .......
Bom, o câmbio em janeiro era de 0,93 soles para cada real ou 3,30 soles para cada dólar.
O Seguro Obligatório de Accidentes de Terceros - SOAT custou-nos R$ 135,00 e é obrigatório. Não fazê-lo pode representar rísco de apreensão da moto pela polícia nas estradas do Peru.
Depois de quase três horas, deixamos Inhapari pela rodovia 30C com destino à Puerto Maldonado, 230 quilômetros à frente.
Aqui já se percebe a qualidade das estradas peruanas. Não encontramos nenhum buraco!!
Passamos por Alerta, Mavilla e pequenos povoados na beira da estrada. Um deles chamou a atenção pela grande quantidade de lixo jogado às margens da rodovia. Depois ficamos sabendo que era uma currutela (garimpo) que o governo até tentou mas não conseguiu retirar.
A tardinha chegamos em Puerto Maldonado e nos dirigimos até o hostal Tambopata (Av. Tambopata, 677 - tel 5182502645). Antes da viagem reservei no Booking os hotéis em várias cidades. Por isso era importante chegar nos destinos dentro do prazo planejado pois o cancelamento da reserva em cima da hora implica no pagamento de meia diária, debitado no cartão. E eu tinha feito cinco reservas em cada hotel!!
Já noite decidimos jantar no Burgos, um bom restaurante com a tradicional Cusquenha geladíssima.
Deixamos as motos na garagem e fomos andar de tuc tuc, o tradicional veículo de três rodas no Peru. Pagamos cinco soles por cada tuc tuc que levam até três pessoas, além do piloto.
Aqui cabe um comentário adicional.
Todo motociclista deve saber que a altitude da cordilheira provoca mal estar, cefaléia, desmaios, dentre outros sintomas pelo ar rarefeito. Raros são os viajantes que não sentem o efeito do conhecido Mal de Puna ou Soroche.
Na Bolívia e Peru recomendam a ingestão de chá de coca ou até mesmo mascar a folha de coca para amenizar os efeitos da falta de ar. Desta vez, me preveni e pesquisando, descobri com amigos o medicamento conhecido no Brasil como Diamox, que tem sido usado para evitar os sintomas. Busquei informações com médico sobre efeitos colaterais e decidimos usar o medicamento enquanto estivéssemos nas alturas da cordilheira. São três comprimidos ao dia, um a cada oito horas, começando um dia antes da subida.
Em 2014 fiquei ruim três dias seguidos por não ter tomado as precauções necessárias. Nem folha de coca deu jeito.
Então, antes de viajar para a região, procure um médico e avalie se o medicamento pode ser usado neste caso.
Só digo uma coisa por experiência própria, o Soroche pode abreviar a sua viagem pelos Andes. Então faça o possível para evitá-lo.

QUARTO DIA
Deixamos o hotel por volta das nove horas depois de fotos com duas meninas, filhas de funcionários do hotel. Tomamos a estrada para Cusco, objetivo deste dia e distante 470 quilômetros já nas alturas da Cordilheira dos Andes.
Logo depois passamos por Mazuco e foi uma grata surpresa encontrar os amigos Félix Gonzales e o Walter Valeriane, motociclistas venezuelanos da Isla Margarita que estavam rodando pelo Peru.
Batemos um papo rápido e seguimos adiante pois eles iriam para Juliaca e Puno e nós para Cusco por estradas diferentes.
 A Estrada do Pacífico se divide em duas rodovias mais à frente. Seguindo em linha reta se chega a Juliaca e Puno e entrando à direita passamos pela ponte e tomamos a 3S para Cusco.


A subida da cordilheira e suas centenas de curvas, muitas em forma de U faz com que a velocidade média caia bastante e isso é bom pois há mais tempo para se apreciar as belas paisagens.
Junto com o frio veio uma leve chuva fazendo com que a temperatura caisse rapidamente.
Quando chegamos no ponto mais alto, estávamos rodando acima das nuvens com temperatura próximo do zero. Quase passamos direto pela placa que indicava o ponto mais alto daquela rodovia, o Abra Pirhuayani com seus 4.725 msnm.


Nesta rodovia há diversos pontos por onde a água da montanha desce, passando sobre a pista. Felizmente neste dia o volume de água era pequeno e passamos facilmente.
Na entrada da cidade fomos parados em uma blitz da polícia. Para nossa surpresa o amigo Juan Gaete de Cusco (oficial aposentado da policia peruana) estava nos esperando  e fomos dispensados de apresentar a documentação.No dia anterior já tinha avisado o amigo Juan Gaete  que chegaríamos e ele foi nos esperar a  uns 80 kms de Cusco.  Alegrias que o motociclismo nos proporciona.
Assim, escoltados pelo amigo em sua BMW 700, o seguimos descendo a cordilheira.
Aí percebi que o freio dianteiro da minha moto dava sinal de desgaste e não demorou para ficar totalmente sem freio.
Anoitecia e para não atrasar a chegada em Cusco, fui usando um pouco do freio traseiro e freio motor.
Foi assustador mas chegamos sem maiores transtornos.
Na entrada de Cusco foi pedido ao grupo que se mantivessem próximos pois o hotel era no centro e o trânsito era intenso. Perder alguém ali, naquele horário, ia dar dor de cabeça.
Chegamos por volta das 19h no Casa Grande Hotel (Av. Santa Catalina Ancha, 353 - tel. 514247037). Esse hotel é um dos poucos que tem estacionamento e fica a uma quadra da Plaza de Armas.
Percorrer as estreitas ruas de paralelepípedos com chuva, praticamente sem freios e com intenso trânsito não foi  a melhor das experiências.
Chegamos no hotel e o recepcionista abriu a ampla porta de vidro para que entrássemos  com as motos pela recepção para ter acesso ao estacionamento. Carro ali, nem pensar.
Depois de dar entrada no hotel nos despedimos do amigo Juan e ajeitamos a bagagem nos quartos.
Com chuva e frio, saímos para jantar e comemorar o cumprimento da primeira etapa.
Amanhã será dia de descanso e vamos conhecer Cusco.