sábado, 2 de janeiro de 2016

Venezuela

76º Dia - 09 de abril de 2014 - San Cristóbal a Sombrero/Venezuela

Noite mal dormida.
O motel era muito movimentado rsrs. O vai e vem (dos carros) me acordou várias vezes durante a noite.
Quando acordei meio zonzo ainda, preparei a moto e deixei o local depois de esperar conferirem se não havia levado nada do quarto.
Tomei a rodovia e pouco minutos depois percebi que a saída era para o outro lado da cidade, obrigando-me a voltar uns cinco quilometros.
A estrada continua movimentada nos primeiros minutos e depois tenho ela só pra mim.
A expectativa de voltar ao Brasil é grande e por isso "arrocho" o acelerador.
Passei por Barinas por volta das 11 horas e continuei pela Panamericana.

Em Guanare parei para almoçar na beira da estrada.
O pequeno restaurante era razoavel mas a música estava no volume máximo e dificultava a conversa até com o pessoal que servia as mesas.
A carne estava muito boa e acompanhada de salada e yuca (mandioca ou macaxeira) foram rapidamente devoradas.
O sol escaldante me obrigou a tirar um cochilo debaixo de uma árvore. Acordei mais disposto e parti.
Já rodei bastante na Venezuela em outras viagens e sempre me recomendaram muito cuidado, principalmente não viajar à noite.
A mim nunca aconteceu nada mas já tive colegas que passaram por apuros.
Para encurtar caminho e chegar mais cedo ao Brasil e, também para conhecer o "miolo" da Venezuela, decidi não ir até Caracas e de lá seguir para El Tigre.

Pelo Valle, economizarei uns 500 km ou menos um dia de viagem. A decisão se baseou também no fato de já conhecer Caracas, Porto la Cruz e Barcelona, trecho por onde passaria se continuasse subindo até o litoral.
Depois de San Carlos, tomei a rodovia à direita rumo ao Valle de la Páscua.
Já tardinha cheguei em Sombrero e decidi pernoitar ali.
Encontrei uma boa pousada e a proprietária não media esforços para atender bem.
Um bom banho e já noite, procurei um local para jantar nas proximidades.

77º Dia - 10 de abril de 2014 - Sombrero a El Callao/Venezuela

Dormi bem esta noite e levantei cedinho.
Neste penúltimo dia de viagem a ansiedade é grande mas tento me conter.
Preciso continuar focado para chegar são e salvo ao meu destino em Boa Vista, Roraima.
Acostumado a rodar por boas estradas na Venezuela, confesso que fiquei decepcionado com esta rodovia.
Além de ser uma estrada quase deserta, nunca vi tanto buraco no asfalto.
Ainda bem que piloto uma big trail pois uma custom aqui sofreria demais. É sair de um buraco e entrar no outro.
A vegetação por aqui é semelhante à de Roraima com suas pequenas árvores retorcidas e uma grande savana.
Somente um lago me chamou a atenção rapidamente mas segui em frente.
Vi três acidentes neste trecho deserto. Em um deles, as equipes de dois caminhões acidentados aguardavam a chegada de socorro.
Por volta das oito horas passei pelo Valle de la Páscua sem me deter.

Não via a hora de chegar em El Tigre, local já conhecido e dali tomar a rodovia para a fronteira com o Brasil.
Perto das 14 horas cheguei na cidade e nem quis almoçar.
Toquei direto para Puerto Ordaz às margens do Rio Orinoco, cidade com vasto potencial siderurgico pela grande quantidade de ferro extraído na região.
Passei pela Puente Orinókia e tomei o rumo de Upata.

Pouco depois das 16 horas cheguei em El Callao e decidi pernoitar por já conhecer a cidade onde fiquei várias vezes hospedado.

78º Dia - 11 de abril de 2014 - El Callao/Venezuela a Boa Vista/Roraima/Brasil

Com o odômetro marcando 33.185 km nesta viagem, deixei El Callao para meu último dia desta expedição.
Daqui pra frente a estrada já é bem conhecida e serão mais 400km até a fronteira e outros 210 até chegar em casa.
Então vamos em frente.
Mantendo a concentração, passei por Tumeremo onde reabasteci a moto e por volta das onze horas já estava em Las Claritas ou KM 88 como é conhecido esta região de garimpo da Venezuela.
Parei para reabastecer no único posto da cidade e distribui quase todos os adesivos da expedição aos motoristas e soldados da Guarda Nacional Bolivariana.
Aproveitei para um rápido lanche no restaurante da D. Maria, uma portuguesa simpática demais que tem seu estabelecimento ao lado do posto e onde costumamos comer quando passamos por aqui.
Subi a Serra Lema com suas 220 vinte curvas em 50 km e parei na Pedra da Virgem, local onde operários viram na rocha, a imagem da padroeira da Venezuela quando abriam a estrada.

Neste local, uma imensa rocha com uma imagem, para mim não muito clara, é ponto de parada para orações e fotos.
Continuei subindo e me deliciando com as últimas curvas desta viagem.
Cheguei na vila de Rapids Kamoiran para mais um reabastecimento quando eram onze horas.
À esquerda o Monte Roraima com seus 2.800 metros na tríplice fronteira, já era visivel.
Por volta das 13 horas cheguei em Santa Elena de Uáiren, fronteira com Brasil.
Depois de fazer os trâmites aduaneiros no Seniat, parei no posto de combustível da fronteira e reabasteci. Aqui a gasolina é vendida por cerca de 60 centavos de real o litro e é o único posto na cidade que estrangeiros abastecem. Os outros dois em Santa Elena são exclusivos para os venezuelanos.
Assim, deixei a Venezuela e cheguei ao Brasil, pela cidade de Pacaraima. Estou a 200 km de casa!!!
Tomei uma água na estação rodoviária e passei uma mensagem para casa e para os amigos.
Continuei descendo agora pela BR 174 rumo a Boa Vista.
Uma hora depois, quando cheguei na Vila de Tres Corações, ou KM 100, dei de cara com um grupo de amigos do Roraima Moto Clube que me aguardavam.

Muita comemoração e abraços e seguimos viagem, agora escoltado por várias motocicletas nos últimos 100 km desta aventura.


Conclusão:

Quando planejei esta viagem, calculei fazer 32 mil quilômetros em 90 dias, com uma pausa de uma semana.
Na verdade rodei 33.800 km. Esta diferença se deu pelo fato de ter decidido passar pelas capitais do centro do Brasil.
Assim, quando cheguei em Salvador, aproei para Palmas no Tocantins e de lá desci para Goiânia, Brasilia, Belo Horizonte e voltei ao litoral em Vitória, no Espírito Santo.
Com isso, percorri DE MOTO, as 26 capitais brasileiras mais o Distrito Federal.
Do mesmo modo, já estive nos quatro pontos cardeais do Brasil ou seja, Mâncio Lima no Acre, Uiramutam em Roraima, Ponta do Seixas na Paraiba e Chui no Rio Grande do Sul.
Com esta viagem, visitei os treze países da América do Sul, pela ordem, Guiana, Suriname, Guiana Francesa, Brasil, Paraguai, Uruguai, Argentina, Chile, Bolivia, Peru, Equador, Colômbia e Venezuela.
Visitei vários lugares que planejei, como Estação Aeroespacial de Kourou na Guiana Francesa, Cataratas do Iguaçu, Ushuaia no extremo sul da Argentina, Deserto de Atacama no Chile, Lago Titicaca, Machu Picchu no Peru, dentre outros. Muitos locais não visitados, ainda pretendo fazê-los um dia.

Os trechos mais difíceis foram os 450 km de terra e lama da Guiana, os 120 km de rípio do Chile e os quase 400 km de terra e areia na Bolívia.
A Cordilheira dos Andes assustou um pouco e o soroche, ou mal da montanha me perseguiu uns quatro dias.
Vários sustos causados por motoristas imprudente e animais na estrada.
Um único acidente na Bolívia resultou em danos materiais apenas, graças a Deus.
Até tentaram mas paguei apenas uma propina à policia boliviana quando deixava o país em Kasani, próximo do Lago Titicaca.
De resto só alegrias.
Recebi o apoio físico de muita gente pelo caminho.
Em Paramaribo - Dennis Lo;
Em Macapá - Carlos e Nancy Bezerra;
Em Belém - Alex Reis e Brenno Highlanders Pará;
Em São Luis - Bebezão, Alciram e Cláudio Jr;
Em Teresina - Edivam;
Em Fortaleza - Luiz Almeida;
Em Natal - Augusto Medeiros;
Em João Pessoa - Emerson Cruz;
Em Maceió - Herbert;
Em Aracajú - Mônica e Indio Pajé;
Em Palmas - Jorge Luiz,o Gaúcho e Osmar Nepumuceno;
Em Brasília - Celso Ferreira;
No Rio de Janeiro - Formigão SFA;
Em Taubaté - Minha mãe e irmãos;
Em São Paulo - Beto Sampa e Jocemir Vrijdgas;
Em Arapongas,PR - Minha sogra e cunhada Nádia;
Em Cascavel, PR - Sandro Augusto Fadanelli;
Em Foz do Iguaçu - Meu irmão Cerineu;
Em Assuncion - Jorge e Sérgio;
Em Itajaí - Fazedores de Chuva Dolor Silva e Angela;
Em Camboriu - Fazedores de Chuva Osmar e Terezinha Becher;
Em Buenos Aires - Julian Parente e família;
Em Bahia Blanca, AR - Mário Martinez;
Em Comodoro Rivadávia - Luis Salas e Suzana;
Em Ushuaia - Cláudio Trifilio;
Em Sarmiento,AR - Norberto e Norma;
Em Loja, EQ - Marcus dos Jinetes del Desierto de Piura/Peru;
Paulo Stangler de Brasilia pela companhia em um trecho da Ruta 3
Também aos meus familiares, além de todos os amigos do Roraima Moto Clube ao qual pertenço e às centenas de mensagens de apoio e incentivo pelo caminho.

Me perdoem se esqueci alguém.
Agora, vamos começar a pensar no Alaska para 2016.
Fui.......

7 comentários:

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    1. Realmente Hermes. Foi espetacular. Já estou programando outra. Grande abraço.

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  2. Parabens!!! vamos viajar a estrada Porto Velho - Cusco em Agosto 2017. Somos 3 motorhomes. Somos Suiços e Alemaeos. Aprendemos portugues brasileiro. Tambem vamos viajar pela Transpantaneira e Transamazonica em Agosto. Em barco com camioneiros até Manaus. Vamos sair da Argentina em julio onde vamos estar de volta em octubre! As informacaoes de Voce em blog ajudam muito. Lembranças de Mendoza.

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    1. Obrigado.Em agosto é possível sair de Porto Velho até Manaus pela BR 319 (também tenho um post neste blog sobre esta rodovia).
      A partir de junho não chove mais na região e vocês podem ir por terra até Manaus. De Porto Velho até Manaus são 880 km sendo 400 de asfalto e outros 480 de terra. Muito melhor ir rodando do que ir em uma balsa. Qualquer informação que precisem, estou às ordens.

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  3. Estou revendo e lembrando de quando nos encontramos no Mu em São Paulo kkkk vc foi uma das primeiras pessoas que me motivou a conhecer Ushuaia com seu mega projeto pela América, objetivo que se concretizou em 2016, legal demais rsrsrs.

    Att Noellen.

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    1. Noellen fico feliz de ter contribuido. Tenho certeza que você também é fonte de motivação para muitos motociclistas Brasil afora. Parabéns pela conquista do Ushuaia.
      Bora rodar!!

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