segunda-feira, 1 de agosto de 2016

BR 319 - ESTRADA FANTASMA?

A idéia de percorrer a BR 319, pilotando uma motocicleta me atiçava há mais de três anos (foto da internet)
Esta rodovia, construida no inicio dos anos 70, foi pavimentada em sua totalidade de 880 km entre Porto Velho e Careiro da Várzea na margem direita do Rio Solimões já próxima de Manaus (fotos da Internet)
Naquela época o governo militar construiu a BR 163 de Santarém a Cuiabá, a BR 230 de Cabedelo na Paraíba até Lábrea no Amazonas e a BR 319 de Porto Velho a Manaus. A idéia era que estas estradas a princípio seriam de terra e só receberiam asfalto quando o movimento de pessoas e veículos assim se justificasse no futuro. Contudo, a BR 319 recebeu um tratamento diferente, uma forma de compensação, pois outros estados, principalmente o Pará já tinham se beneficiado com obras maiores no governo militar. Assim a BR 319 foi sendo aberta e pavimentada, chegando a ser usado lonas plásticas para proteger o asfalto recém aplicado na época de chuvas.
Talvez a pressa em executar a obra sem que fosse feito um trabalho de base conforme as normas de engenharia, aliado à fina camada do pavimento e a total falta de manutenção nos anos seguintes, fez da BR 319 uma estrada intransitável, ou como muitos dizem: uma cicatriz no meio da floresta amazônica.
Isso fez com que as empresas de navegação prosperassem transportando pessoas e cargas para os ribeirinhos ao longo do Rio Madeira bem como de Manaus para Porto Velho e vice versa. E a estrada foi sendo esquecida, a ponto de receber a denominação de Estrada Fantasma.
Voltando à atualidade, em 2013 quando comprei minha moto atual na concessionária BMW em Curitiba, decidi que era a hora de percorrer a 319.
Na época eu estava cumprindo os desafios Bandeirante Fazedor de Chuva e Cardeal Fazedor de Chuva, visitando de moto as capitais brasileiras bem como os quatro pontos extremos do Brasil. Depois de ter passado por Campo Grande, Cuiabá, Porto Velho, Rio Branco, cheguei a Mâncio Lima, 30 km depois de Cruzeiro do Sul no Acre, atingindo o extremo oeste do país e de lá voltei a Porto Velho, para em seguida tocar mais 200 km até Humaitá, no Amazonas.
Ali cheguei, disposto a percorrer a estrada fantasma sozinho. Contudo, para minha decepção, cheguei junto com a chuva. Ainda assim decidi pernoitar na cidade e esperar o dia seguinte na esperança de amanhecer com tempo bom.
Para minha tristeza não foi o que aconteceu e, como não podia esperar mais, abandonei a idéia de seguir viagem pela estrada pois estaria sozinho e com uma moto pesada. Preferi não arriscar e à noite tomei o banco Caçote II para Manicoré (barco direto para Manaus só dali a três dias).
No outro dia, já em Manicoré, lavei a moto e parti em outro barco (Lindo Amanhecer, se não me falha a memória)navegando rumo a Manaus (aventura já relatada neste blog anteriormente).
E o tempo passou, fiz outras grandes viagens, dentre elas a Expedição Um abraço na América do Sul onde percorri 33.800 km em 86 dias pelos 13 países da América do Sul. E nada de rodar pela BR 319, tão pertinho, a pouco mais de 770 km de Boa Vista,RR, onde moro.
Em 2016, o amigo motociclista Jean Brustolin queria percorrer as Guianas e me convidou. Já rodei por lá e declinei do convite mas no outro dia sugeri a ele: Por que não a BR 319?
Ele topou na hora e as Guianas ficaram para outra oportunidade.
Começamos a planejar os detalhes. Sou Administrador e não consigo fazer nada sem planejar antes rsrsr....
No outro dia, a convite do Jean, juntou-se ao gupo o Wolter Borges com sua Teneré viciada em estradas de terra.
Quase tudo pronto e meu filho Luiz Henrique conseguiu liberação do escritório onde trabalha e a dupla virou um quarteto.
Além disso, esperávamos um motociclista irlandes que estava chegando via Guianas, de modo que seriam cinco motociclistas rodando até Manaus, distante 770 km.
Já tinhamos combinado nos juntar ao MG 100% Amazonia em Manaus e seguir juntos pela BR 319 até Porto Velho de onde retornaríamos e eles seguiriam para o Moto Capital em Brasilia.
Ao mesmo tempo, amigos de Belém tinham solicitado que déssemos apoio a um gringo que estava chegando em Manaus na véspera da nossa partida. Assim o Wissam, um palestino que mora em Dubai e está rodando pelo Brasil se juntaria ao bonde rumo a Porto Velho. Expedição multinacional ehehehe.
Tudo pronto, perdi o contato com o irlandes dois dias (dezoito dias depois ele chegou em Boa Vista e disse que ficou isolado pela chuva em uma região sem contato telefônico.
Partimos cedinho no dia 12 de julho para Manaus. Vou fazer um breve relato deste trecho para auxiliar outros motociclistas que planejam viajar pela região.
A BR 174 (que se funde à BR 319 em alguns kms e pouca gente sabe disso) tem em seu trecho conhecido de Manaus,passando por Boa Vista e seguindo até Pacaraima, na fronteira com a Venezuela, uma extensão de 990 km, toda asfaltada e em ótimas condições.
Hoje o trecho de Boa Vista até Manaus tem 770 km com postos de combustíveis a cada 150 km em média, não necessitando trazer galões de reserva. Partindo de BV, temos Mucajaí a 55 km, Iracema a 95 km, Caracaraí a 135 e depois Rorainópolis a 290 km. A partir dali, Vila de Nova Colina a 40 km, Vila do Equador distante 70 km (onde tem o monumento da Linha do Equador) e 40 km mais a frente a vila do Jundiá, onde tem posto de gasolina, o posto de fronteira da Sefaz Roraima e o inicio da Reserva Indígena Waimiri-Atroari.
A BR 174 passa por dentro da reserva que é fechada à partir das 18 h, só reabrindo no outro dia as seis da manhã. Neste período noturno, só estão autorizados a passar, ônibus de linha regular interestadual, ambulâncias e viaturas policiais. O trecho de reserva ainda dentro de Roraima é de 75 km, somados a outros 55 já dentro do Amazonas. Saindo da reserva, poucos kms depois há outro posto de gasolina na vila Abonari e um segundo posto 25 km depois. O trecho de Abonari até Pres. Figueiredo é de cem quilometros e de lá outros 107 kms e você chegará a Manaus.

Pois bem, a viagem foi tranquila, com paradas regulares para esticar as canelas e reabastecimento em Caracaraí, Rorainópolis, Jundiá e Presidente Figueiredo. Lá avisamos os amigos de Manaus que chegaríamos em pouco mais de uma hora e eles nos esperaram na entrada da cidade, cortesia que só vemos no motociclismo.
Chegando no hotel, vimos que a KTM 1190 do palestino já estava no estacionamento. Tínhamos combinado ficar no mesmo hotel que ele para facilitar a saída na madrugada do dia seguinte.
E para comemorar a chegada, fomos a pé, tomar umas cervejas geladas no Shopping Amazonas a poucos metros do hotel, na companhia do Antonio Ribeiro, seu filho e a esposa Lilian do 100% Amazonia. Lá aproveitamos para comprar os últimos ítens de alimentação para a viagem.
No outro dia, conforme combinamos, acordamos cedo, fechamos a conta e às cinco horas partimos para o Porto da Ceasa, onde tomaríamos a balsa para o outro lado do Rio Solimões.
A BR 319 termina em Manaus na chamada Bola da Suframa, uma espécie de trevo próximo ao Polo Industrial de Manaus. Poucos kms depois ela é interrompida pelo rio.
Tínhamos combinado partir na primeira balsa, as seis horas. Contudo, alguns colegas se atrasaram e partimos, combinando antes que os esperariamos do outro lado.
As balsas fazem a travessia de 45 minutos saindo de hora em hora das 06 até as 20h em ambos os lados do rio. Motos de até 300 cc pagam 15 e as acima desta cilindrada pagam 20 reais cada, incluindo o piloto e garupa.
Eram sete horas quando atracamos no porto de Careiro da Várzea. Desembarcamos e fomos tomar café, enquanto esperaríamos a próxima balsa chegar com o restante do grupo.
Eram quase nove horas quando partimos para nossa aventura. Logo na saída da pequena cidade tem um posto de gasolina e 20 km depois outro. Deixamos para abastecer as moto
s e encher os galões (aqui chamados de carote) no posto da cidade de Careiro Castanho, 105 km á frente, e última opção de reabastecimento.
A rodovia é asfaltada neste trecho e rapidamente chegamos à cidade.
Reabastecimento feito, garantido estoque de água potável para dois dias e últimos detalhes checados para evitar surpresas desagradáveis e lá fomos nós para Igapó Açu. A partir dali, gasolina só na Vila Realidade, 480 quilometros de distância.
Este trecho tem 50 km de asfalto e outros 50 de terra.
Para dar mais emoção, estão trabalhando na rodovia e um trecho de pouco mais de três km de generosa camada de areia e seixo já deram as boas vindas e alguns sustos.

Logo mais à frente um trecho também em obras estava molhado e já mostrava como seria enfrentar a estrada se chovesse mais adiante. Ali um primeiro tombo de um colega, sem maiores problemas.
Chegamos em Igapó Açu e cruzamos de balsa o pequeno rio. Dez pratas para cada moto. Aproveitamos a parada para almoçar em um dos simples restaurantes do local.
E aí a chuva veio com vontade e durou alguns minutos. Suficiente para nos preocupar. Já teve gente querendo pernoitar ali mesmo e olha que eram 14 h apenas kkkkk.
Aproveitamos para esvaziar algumas garafas pet que tinhamos trazido com gasolina e, logo depois partimos.
Os primeiros quilometros da estrada são intercalados. Terra, pequenos trechos com asfalto deteriorado e muitos buracos. Mas dava pra manter uma média de 40 km/h (foto da internet).
Por sorte a chuva só tinha molhado a estrada nos primeiros cinco quilometros e pudemos seguir mais tranquilos até que um dos suportes de um dos meus bauletos quebrou. Mais uma parada para amarrar com os tirantes e catracas que nessa hora mostraram sua importância. Melhor levar e não precisar, do que precisar e não ter.....
Eram pouco mais das 17 horas quando chegamos no Rio Novo. Ali, um improvisado acampamento de trabalhadores da empresa que estava substituindo antigas pontes de madeira por.... pontes de madeira.
Rolou um pequeno estresse pois alguns queria seguir um pouco adiante, inclusive eu, enquanto outros decidiram acampar ali. Rodamos pouco mais de 300 km durante todo o dia.
Depois, analisando, concordei que pernoitar ali foi a melhor opção. Não conseguiriamos chegar até a Fazenda dos Catarinas antes do escurecer. Pudemos tomar banho no igarapé e depois de um improviso no jantar à base de miojo, pão, sardinhas e arroz, dormimos sossegados, alguns em barracas e outros em redes. O grupo era de onze motociclistas. O palestino (que não falava um "a" em português) tirou onda conosco. Sua barraca parecia uma casa. Até a moto ele guardou dentro dela kkkk.
A noite esfriou bastante e as cinco da madruga já tinha gente tomando banho no igarapé gelado. Haja coragem!
Preparamos o café, juntamos a tralha e logo depois já estávamos na estrada.
Por volta das dez horas passamos pela Fazenda dos Catarinas, um local muito utilizado pelos viajantes para pernoite.
A estrada continuava alternando pequenos trechos de asfalto esburacados e terra. Neste trecho outra empresa está fazendo a manutenção da estrada. Em razão disso, há que se tomar cuidado com a poeira que não é pouca não. Quando o vento sopra, a poeira é carregada para a selva. Do contrário, ela demora a dissipar e o rísco é grande.
Logo adiante, um trecho de quase cem metros é uma verdadeira armadilha. Trata-se de uma caixa de pó que ocupa a largura da estrada. Após a lama secar, a terra vai sendo triturada pelos pneus dos veículos e forma um colchão de pó muito fino com uns vinte cm de altura sobre a estrada.
Você só percebe quando está dentro. Aí meu amigo, se segura, por que é dificil controlar a moto.
Outro colega de Manaus se acidentou ali. Infelizmente, mais tarde foi comprovada lesão no joelho e ele teve que regressar de barco desde Humaitá.
Estávamos rodando bem quando a moto do Jean parou de funcionar. Dava partida mas não "pegava". Cogitaram deixá-la no acampamento da construtora uns cem metros à frente.
Mas com meus conhecimentos de mexanica, rapidamente resolvemos. Era mau contato dos terminais da bomba de gasolina da GS 800. Impossível não acontecer com tantos solavancos na estrada.
Continuamos e logo depois demos de cara com o palestino voltando. Ele que estava uns cinco quilometros à nossa frente tinha retornado pois perdera um dos alforges da moto.
Seguimos adiante procurando nos dois lados da estrada e ele retornou um pouco mais até se juntar ao restante do grupo mais atrás.
Logo depois encontramos dois motociclistas de Cascavel, Paraná que vinham em sentido contrário e tinha achado o alforge. Ficamos batendo papo até que o palestino retornou. Escondemos o alforge e tiramos um sarro dele que já estava puto falando mother fucker o tempo todo.
Antes de vir ao Brasil ele fez um curso off road de tres semanas na Alemanha e agora aplicava os conhecimentos na estrada, largando a gente para trás. Chegou nossa hora de se vingar kkkkk.
Depois de alguns minutos devolvemos o alforge à ele e pudemos ver que ali estavam peças, óleos e outros ítens essenciais da moto.

Nos despedimos da dupla paranaense e rodamos mais alguns km de muita poeira até chegar no bar do Cabeludo, cerca de 15 km antes de Vila Realidade. Paramos para almoçar e o grupo que estava na frente passou direto.
Impossível não tomar uma cerveja gelada para tirar o pó da garganta. Mas só uma, por que ainda falta muito chão pela frente.
Uma hora depois continuamos a viagem e chegamos a Vila Realidade para reabastecimento das motos. A moto do palestino quando "viu" o posto, apagou. Chegou "no embalo". O cálculo dele não contemplou os quase trinta kms a mais que ele fez, tentando encontrar o alforge. Deu sorte porque todos nós já tinhamos zerado o estoque extra de gasosa.
Depois de alguns minutos, voltamos à estrada. Apesar de muita poeira, estávamos perto de chegar ao asfalto e ele apareceu uns trinta quilometros depois.
Logo à frente um Fiat Uno parado com uma família numerosa mostrava que estavam com problemas. Paramos e o palestino rapidinho começou a consertar o veículo. Um dos flexíveis de freio tinha se rompido, despejando o fluído de freio. A solução foi isolar a roda. Também somos solidários com motoristas!
A princípio, todo esburacado e depois foi melhorando até chegar no entroncamento para Humaitá à esquerda e Lábrea para a direita.
A partir dali, outros 30 quilometros de asfalto nos levaram até Humaitá para mais um reabastecimento por que dali a Porto Velho são 200 quilometros sem nenhum ponto de reabastecimento.
Depois de abastecidos e mais uns litros de água na barriga, voltamos deixamos a cidade e chegamos já escuro em Porto Velho onde nos aguardavam outros integrantes do MG 100% Amazônia daquela cidade.
Esperamos cerca de meia hora para reagrupar a turma e fomos escoltados até um dos hotéis enquanto o grupo de Manaus seguiu para a sede local.
O hotel que pretendiamos ficar é de propriedade de um motociclista mas, infelizmente, estava lotado. Fomos obrigados a procurar outro local para pernoitar.
Já chegamos na recepção dando explicações do porque estávamos tão sujos. O recepcionista deve ter pensado: "aí minhas tolhas brancas" kkkkkk.
Esfomeados, tomamos banho e saímos para tomar umas cervejas e comemorar o feito. Tínhamos percorrido a BR 319!!

Amanhã tem a volta!

sábado, 2 de janeiro de 2016

Venezuela

76º Dia - 09 de abril de 2014 - San Cristóbal a Sombrero/Venezuela

Noite mal dormida.
O motel era muito movimentado rsrs. O vai e vem (dos carros) me acordou várias vezes durante a noite.
Quando acordei meio zonzo ainda, preparei a moto e deixei o local depois de esperar conferirem se não havia levado nada do quarto.
Tomei a rodovia e pouco minutos depois percebi que a saída era para o outro lado da cidade, obrigando-me a voltar uns cinco quilometros.
A estrada continua movimentada nos primeiros minutos e depois tenho ela só pra mim.
A expectativa de voltar ao Brasil é grande e por isso "arrocho" o acelerador.
Passei por Barinas por volta das 11 horas e continuei pela Panamericana.

Em Guanare parei para almoçar na beira da estrada.
O pequeno restaurante era razoavel mas a música estava no volume máximo e dificultava a conversa até com o pessoal que servia as mesas.
A carne estava muito boa e acompanhada de salada e yuca (mandioca ou macaxeira) foram rapidamente devoradas.
O sol escaldante me obrigou a tirar um cochilo debaixo de uma árvore. Acordei mais disposto e parti.
Já rodei bastante na Venezuela em outras viagens e sempre me recomendaram muito cuidado, principalmente não viajar à noite.
A mim nunca aconteceu nada mas já tive colegas que passaram por apuros.
Para encurtar caminho e chegar mais cedo ao Brasil e, também para conhecer o "miolo" da Venezuela, decidi não ir até Caracas e de lá seguir para El Tigre.

Pelo Valle, economizarei uns 500 km ou menos um dia de viagem. A decisão se baseou também no fato de já conhecer Caracas, Porto la Cruz e Barcelona, trecho por onde passaria se continuasse subindo até o litoral.
Depois de San Carlos, tomei a rodovia à direita rumo ao Valle de la Páscua.
Já tardinha cheguei em Sombrero e decidi pernoitar ali.
Encontrei uma boa pousada e a proprietária não media esforços para atender bem.
Um bom banho e já noite, procurei um local para jantar nas proximidades.

77º Dia - 10 de abril de 2014 - Sombrero a El Callao/Venezuela

Dormi bem esta noite e levantei cedinho.
Neste penúltimo dia de viagem a ansiedade é grande mas tento me conter.
Preciso continuar focado para chegar são e salvo ao meu destino em Boa Vista, Roraima.
Acostumado a rodar por boas estradas na Venezuela, confesso que fiquei decepcionado com esta rodovia.
Além de ser uma estrada quase deserta, nunca vi tanto buraco no asfalto.
Ainda bem que piloto uma big trail pois uma custom aqui sofreria demais. É sair de um buraco e entrar no outro.
A vegetação por aqui é semelhante à de Roraima com suas pequenas árvores retorcidas e uma grande savana.
Somente um lago me chamou a atenção rapidamente mas segui em frente.
Vi três acidentes neste trecho deserto. Em um deles, as equipes de dois caminhões acidentados aguardavam a chegada de socorro.
Por volta das oito horas passei pelo Valle de la Páscua sem me deter.

Não via a hora de chegar em El Tigre, local já conhecido e dali tomar a rodovia para a fronteira com o Brasil.
Perto das 14 horas cheguei na cidade e nem quis almoçar.
Toquei direto para Puerto Ordaz às margens do Rio Orinoco, cidade com vasto potencial siderurgico pela grande quantidade de ferro extraído na região.
Passei pela Puente Orinókia e tomei o rumo de Upata.

Pouco depois das 16 horas cheguei em El Callao e decidi pernoitar por já conhecer a cidade onde fiquei várias vezes hospedado.

78º Dia - 11 de abril de 2014 - El Callao/Venezuela a Boa Vista/Roraima/Brasil

Com o odômetro marcando 33.185 km nesta viagem, deixei El Callao para meu último dia desta expedição.
Daqui pra frente a estrada já é bem conhecida e serão mais 400km até a fronteira e outros 210 até chegar em casa.
Então vamos em frente.
Mantendo a concentração, passei por Tumeremo onde reabasteci a moto e por volta das onze horas já estava em Las Claritas ou KM 88 como é conhecido esta região de garimpo da Venezuela.
Parei para reabastecer no único posto da cidade e distribui quase todos os adesivos da expedição aos motoristas e soldados da Guarda Nacional Bolivariana.
Aproveitei para um rápido lanche no restaurante da D. Maria, uma portuguesa simpática demais que tem seu estabelecimento ao lado do posto e onde costumamos comer quando passamos por aqui.
Subi a Serra Lema com suas 220 vinte curvas em 50 km e parei na Pedra da Virgem, local onde operários viram na rocha, a imagem da padroeira da Venezuela quando abriam a estrada.

Neste local, uma imensa rocha com uma imagem, para mim não muito clara, é ponto de parada para orações e fotos.
Continuei subindo e me deliciando com as últimas curvas desta viagem.
Cheguei na vila de Rapids Kamoiran para mais um reabastecimento quando eram onze horas.
À esquerda o Monte Roraima com seus 2.800 metros na tríplice fronteira, já era visivel.
Por volta das 13 horas cheguei em Santa Elena de Uáiren, fronteira com Brasil.
Depois de fazer os trâmites aduaneiros no Seniat, parei no posto de combustível da fronteira e reabasteci. Aqui a gasolina é vendida por cerca de 60 centavos de real o litro e é o único posto na cidade que estrangeiros abastecem. Os outros dois em Santa Elena são exclusivos para os venezuelanos.
Assim, deixei a Venezuela e cheguei ao Brasil, pela cidade de Pacaraima. Estou a 200 km de casa!!!
Tomei uma água na estação rodoviária e passei uma mensagem para casa e para os amigos.
Continuei descendo agora pela BR 174 rumo a Boa Vista.
Uma hora depois, quando cheguei na Vila de Tres Corações, ou KM 100, dei de cara com um grupo de amigos do Roraima Moto Clube que me aguardavam.

Muita comemoração e abraços e seguimos viagem, agora escoltado por várias motocicletas nos últimos 100 km desta aventura.


Conclusão:

Quando planejei esta viagem, calculei fazer 32 mil quilômetros em 90 dias, com uma pausa de uma semana.
Na verdade rodei 33.800 km. Esta diferença se deu pelo fato de ter decidido passar pelas capitais do centro do Brasil.
Assim, quando cheguei em Salvador, aproei para Palmas no Tocantins e de lá desci para Goiânia, Brasilia, Belo Horizonte e voltei ao litoral em Vitória, no Espírito Santo.
Com isso, percorri DE MOTO, as 26 capitais brasileiras mais o Distrito Federal.
Do mesmo modo, já estive nos quatro pontos cardeais do Brasil ou seja, Mâncio Lima no Acre, Uiramutam em Roraima, Ponta do Seixas na Paraiba e Chui no Rio Grande do Sul.
Com esta viagem, visitei os treze países da América do Sul, pela ordem, Guiana, Suriname, Guiana Francesa, Brasil, Paraguai, Uruguai, Argentina, Chile, Bolivia, Peru, Equador, Colômbia e Venezuela.
Visitei vários lugares que planejei, como Estação Aeroespacial de Kourou na Guiana Francesa, Cataratas do Iguaçu, Ushuaia no extremo sul da Argentina, Deserto de Atacama no Chile, Lago Titicaca, Machu Picchu no Peru, dentre outros. Muitos locais não visitados, ainda pretendo fazê-los um dia.

Os trechos mais difíceis foram os 450 km de terra e lama da Guiana, os 120 km de rípio do Chile e os quase 400 km de terra e areia na Bolívia.
A Cordilheira dos Andes assustou um pouco e o soroche, ou mal da montanha me perseguiu uns quatro dias.
Vários sustos causados por motoristas imprudente e animais na estrada.
Um único acidente na Bolívia resultou em danos materiais apenas, graças a Deus.
Até tentaram mas paguei apenas uma propina à policia boliviana quando deixava o país em Kasani, próximo do Lago Titicaca.
De resto só alegrias.
Recebi o apoio físico de muita gente pelo caminho.
Em Paramaribo - Dennis Lo;
Em Macapá - Carlos e Nancy Bezerra;
Em Belém - Alex Reis e Brenno Highlanders Pará;
Em São Luis - Bebezão, Alciram e Cláudio Jr;
Em Teresina - Edivam;
Em Fortaleza - Luiz Almeida;
Em Natal - Augusto Medeiros;
Em João Pessoa - Emerson Cruz;
Em Maceió - Herbert;
Em Aracajú - Mônica e Indio Pajé;
Em Palmas - Jorge Luiz,o Gaúcho e Osmar Nepumuceno;
Em Brasília - Celso Ferreira;
No Rio de Janeiro - Formigão SFA;
Em Taubaté - Minha mãe e irmãos;
Em São Paulo - Beto Sampa e Jocemir Vrijdgas;
Em Arapongas,PR - Minha sogra e cunhada Nádia;
Em Cascavel, PR - Sandro Augusto Fadanelli;
Em Foz do Iguaçu - Meu irmão Cerineu;
Em Assuncion - Jorge e Sérgio;
Em Itajaí - Fazedores de Chuva Dolor Silva e Angela;
Em Camboriu - Fazedores de Chuva Osmar e Terezinha Becher;
Em Buenos Aires - Julian Parente e família;
Em Bahia Blanca, AR - Mário Martinez;
Em Comodoro Rivadávia - Luis Salas e Suzana;
Em Ushuaia - Cláudio Trifilio;
Em Sarmiento,AR - Norberto e Norma;
Em Loja, EQ - Marcus dos Jinetes del Desierto de Piura/Peru;
Paulo Stangler de Brasilia pela companhia em um trecho da Ruta 3
Também aos meus familiares, além de todos os amigos do Roraima Moto Clube ao qual pertenço e às centenas de mensagens de apoio e incentivo pelo caminho.

Me perdoem se esqueci alguém.
Agora, vamos começar a pensar no Alaska para 2016.
Fui.......