quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Colômbia


73º Dia - 06 de abril de 2014 - Pasto a Ibague/Colômbia

Ontem adentrei à Colômbia e pernoitei em Pasto depois de ter visitado a Igreja de N.S. de Las Lajas em Ipiales.

O objetivo de hoje será chegar à Bogotá a 800 km. Não sei se conseguirei pois o trecho é de muitas curvas, subidas e descidas além de barreiras do exército colombiano.
Deixei Pasto por volta das 08 horas e parti para Popayan pela rodovia Panamericana.
A rodovia está muito bem cuidada.
Já é possível observar que o exército está presente nas cabeças de pontes, túneis, pontes e entrada de cidades com seus bunkers. Consequência da presença das FARCs pelo país.
Por volta do meio dia, um acidente feio, culminou com um carro totalmente destruido e meia hora de pista bloqueada até retirar o veículo.


Cheguei em Cali e mentalmente ia lembrando de um período tenebroso quando esta cidade junto com Medellin eram o centro da distribuição de cocaína para o mundo.
PS: Se tiverem interesse em conhecer um pouco mais, assistam ao seriado estrangeiro NARCOS que tem o brasileiro Wagner Moura representando o papel de Pablo Escobar. Vendo, é possível conhecer um pouco mais deste período sangrento da Colômbia, então dominada pelas FARCs, M-19 e os cartéis do tráfico.
Por onde passei, o visual era fantástico. Do alto da cordilheira pude observar a rodovia lá embaixo, parecendo um pequeno rio cortando o vale.
E dá-lhe curvas, algumas mais acentuadas que as outras.
Em uma delas, tive que passar por um caminhão pela mão contrária. Eu, já acelerado, fiz a curva quase no meio da pista. Em sentido contrário vinha uma carreta já avançando sobre minha pista para poder fazer a curva fechada. Resultado: passei pela direita dele, como se estivesse pilotando em mão inglesa.
Foi um susto grande mesmo que o caminhão vinha em baixa velocidade na subida.
Em nenhum local o exército me parou. Várias vezes buzinei, cumprimentando-os com um aceno e sempre me retribuiram.
Depois de Tulua começou um chuva fina mas contínua.

Quando cheguei próximo de Armenia, tomei à direita pois vou passar por Bogotá e entrar na Venezuela por San Antonio/San Cristobal no sul do país.
Do contrário, seguiria para Medellin e de lá para Cartagena, Barranquilha para entrar pelo noroeste via Maicao.
E rapidamente a noite chegou. E com ela a escuridão da cordilheira.
Aí pude comprovar que a lâmpada do farol trocado em Uyuni na Bolívia, não servia pra nada. Não bastasse isso, percebi que a lâmpada da lanterna traseira também não acendia.
Eu ainda estava longe da civilização e pensei que teria que dormir na estrada, acampado em qualquer lugar para prosseguir em segurança no outro dia. A próxima cidade era Ibague a 200 km de Bogotá.
Felizmente alguns caminhões também seguiam rumo a Bogotá e como estavam descendo a serra em baixa velocidade, devido às centenas de curvas, decidi seguir um deles.
E assim rodei uns cem quilômetros sem nenhuma iluminação. Quando percebia algum carro se aproximando, acionava o freio que era a única forma de alertar os condutores que eu estava ali na frente.
Quando vinha carros em sentido contrário, eu me aproximava o máximo do caminhão à minha frente para não correr o rísco de uma ultrapassagem em sentido contrário.
E assim, depois de rodar cerca de 600 km, cheguei todo enlameado em uma pequena posada ainda na serra onde caminhões paravam para serem lavados.
Era um local muito simples mas suficiente para minhas modestas pretensões.
Paguei os 40 mil pesos pela hospedagem e subi para tomar um bom banho.
Mais tarde comi um grande sanduiche com um refrigerante e dormi feito uma pedra.

74º Dia - 07 de abril de 2014 - Ibague a Bucaramanga/Colômbia

Continuo rodando sem GPS.
Como sou precavido, trouxe mapas plastificados de cada país. Assim, antes de sair pela manhã, consulto o mapa, vejo qual será o trajeto e mentalmente guardo o nome das cidades por onde passarei.
Durante o deslocamento, se tiver dúvidas, paro e consulto o mapa novamente.
Desde o acidente na Bolívia, desisti de conhecer melhor as capitais. Pretendo refazer partes desta viagem e futuramente dedicarei mais tempo à isso.
Por ora, vamos rodar!
Quando acordei, pensei aproveitar o posto de lavagem de caminhões e dar um banho na moto. Afinal, a última vez que a lavei foi.... nem lembro mais.
Um amigo me disse que moto bonita é moto suja pois prova que você é um estradeiro.
Deixo pra lavar depois então rsrs.
Ainda pensando como resolver o problema da iluminação da moto, continuei minha viagem.
Havia me dito que em Bucaramanga havia uma concessionária BMW e resolvi seguir minha viagem até lá. Se fosse preciso, ficaria lá um ou dois dias até resolver o problema.
Passei rapidamente por Ibague e Tolemaida e cheguei em Bogotá.Como disse, não tenho interesse em conhecer Bogotá e farei isso em outra oportunidade. Então, vamos enrolar o cabo rumo a Tunja.
Em muitos trechos, estou pilotando acima das nuvens.

Belas paisagens. Rodovias muito boas e em alguns trechosa montanha de um lado e do outro, precípicios imensos.
Caía a noite quando imaginei ter chegado em Bucaramanga.
Procurei por um hotel e tive dificuldades para encontrar.
No primeiro, não aceitavam dólares e nem cartão. Eu tinha esgotado meus pesos e tive que procurar outro..
O outro aceitava cartão mas tentamos passar várias vezes sem sucesso e o jeito foi perguntar por outro hotel.
O recepcionista me disse que só em BUCARAMANGA.
Ué, pensei que estava na cidade.
Na verdade não. Cheguei em uma pequena cidade 30 km antes.
Já estava rodando com a moto sem farol. Imagina ter que andar mais 30 km no escuro. Mas não tinha outro jeito.
Retornei à rodovia e segui atrás de um ônibus enquanto deu.
Finalmente cheguei em Bucaramanga e estressado pedi a um taxista onde tinha um hotel. Ele informou mas não entendi direito e paguei dez dólares a ele para me levar até lá.
O Hotel San Luiz era de bom padrão e pedi se aceitavam dólares. Diante da afirmativa, decidi ficar ali mesmo com o hotel custando 45 dólares a diária.

75º Dia - 08 de abril de 2014 - Bucaramanga/Colômbia a San Cristóbal/Venezuela

Depois de um bom café, pedi à recepcionista se conhecia uma loja da BMW na cidade. Ela me indicou o endereço perto do hotel.
Fui à pé e depois de umas três quadras, só vi loja de automóveis de várias marcas.
Em uma delas pedi se sabiam onde era a BMW e ninguém soube dizer.
Voltei ao hotel disposto à procurar melhor. Lá, fiquei sabendo que era no centro da cidade, longe de onde eu estava.
Decidi então seguir viagem, sem comprar as peças que faltavam.
Já estou perto de casa e vou fazer isso quando chegar lá, com calma.

Retornei à estrada e segui rumo à Cúcuta na fronteira com Venezuela.
Quase duas da tarde cheguei em Cúcuta disposto a sair da Colômbia no mesmo dia.

A região próxima da Aduana colombiana estava caótica com carros pra todo lado e um engarrafamento grande.
Segui me esgueirando entre os carros e quando cheguei no posto de controle, estacionei a moto em local não permitido mas não havia outro jeito.
Falei com um soldado e pedi onde era a imigração e a aduana. Ele apontou o outro lado da rua e fui até lá.
Na imigração foi relativamente rápido.
Contudo, na aduana não. Simplesmente o único funcionário não estava no local.
Esperei meia hora, procurei pelo sujeito e nada.
Quase uma hora depois ele apareceu. Aí já tinha uma fila grande de pessoas para serem liberadas.
Cheguou minha vez e ele pediu onde estava a moto.
Disse que estava do outro lado da avenida e ele me mandou buscar ela.
Tentei argumentar que era mais fácil ele ir até lá do que eu fazer o retorno. Não teve jeito.
Muito puto da vida fui até a moto e fiz o retorno passando pelo meio dos carros cujos motoristas não tinham nenhuma paciência e não economizavam na buzina.
Não havia como entrar no estacionamento. Um imenso caminhão ocupava a entrada e tive que passar por cima de um canteiro, contando com a ajuda de algumas pessoas que estavam ali.
Quando cheguei no local que me mandaram colocar a moto, o sujeito da aduana simplesmente olhou e assinou o papel, mandando eu seguir viagem.
Mentalmente dirigi alguns "elogios" a ele e voltei ao engarrafamento para sair da Colômbia, duas horas depois de ter chegado no local.
Logo depois já estava do lado venezuelano.

Parei ao lado de um soldado da Guarda Nacional Bolivariana e pedi onde fazia o trâmite.
Ele disse que era no centro da cidade mais à frente.
Não entendi e questionei de novo. Havia um imenso prédio do Seniat no local e porque tinha que ir até a cidade.
Não teve jeito e lá fui eu a procura da imigração na cidade de San Antonio.
Depois de algumas informações, encontrei o local mas nenhuma vaga nas proximidades. Rodei e deixei a moto uns cinquenta metros do prédio.
Depois de cinco pessoas, fui atendido e rapidamente liberado. Pedi pela aduana e me informaram que era em outro prédio a uns três quarteirões dali.
Eita povo que gosta de complicar.
Cheguei no endereço e vi que era um posto policial. Entrei e pedi pela aduana.
Um policial me disse que era no predio do Seniat na divisa do país. Aleguei que passei por lá e me disseram que era em San Antonio.
Ele disse que não. Eu teria que voltar ao local e depois de liberado teria que passar ali de novo para carimbar o documento.
Hoje não era meu dia. Nunca vi tanta burocracia.
Voltei à fronteira e procurei pela Aduana. Era nos fundos do prédio, por onde passavam dezenas de caminhões com cargas.
Enquanto esperava, vi várias vezes despachantes entregando calhamaços de papeis com dinheiro entre as folhas. Propina para liberar a carga mais rapidamente e sem conferência imaginei.
Quando chegou minha vez de ser atendido, o funcionário fez sinal que estava fechando e só me liberaria no outro dia.
Aí perdi a paciência de vez!!
Disse que já tinha passado por ali e me mandaram ao centro da cidade. E que se tivessem me dado a informação correta, eu já teria feito o trâmite há mais de uma hora.
Vendo que eu continuaria ali reclamando, resolveu me atender.
Pediu a papelada e e enquanto digitava com um dedo, segurava um pacote de chips na outra mão. Não bastasse isso, de vez em quando mordia uma barra de chocolate deixado ao lado do teclado.
Eu estava vendo a hora dele carimbar meu passaporte com aquela barra de chocolate.
Quase meia hora depois, finalmente estava liberado.
Voltei rapidinho ao posto policial no centro e estavam fechando. Implorei para carimbarem o permisso para eu seguir viagem e abriram a sala novamente.
Já anoitecendo e eu de novo, andando no escuro sem farol.
Achei que chegaria logo a San Cristobal mas era um trecho de mais de cinquenta quilometros e dezenas de curvas.

Quando cheguei, parei em um posto para reabastecer e pedir por um hotel.
De cara o abastecedor me pediu o ticket.
Mas será o benedito hoje? Quase perguntei: Que porra de ticket???
Nesta região, para conter o descaminho de gasolina para a Colômbia, o governo adotou um cartão magnêtico para os motoristas.
No posto há várias antenas que captam o sinal e só então podem abastecer.
Expliquei que era turista mas não teve jeito. Pedi então onde conseguiria o cartão naquela hora e ele disse que poderia tentar com algum motorista.
Desisti. Sei que na Venezuela vendem gasolina em quase todas as casas e resolvi parti para esta opção.Pedi onde conseguiria combustível e ele apontou uma casa a uns cinquenta metros. Lá fui eu.
Depois de alguma conversa (pelo adiantado da hora) consegui cinco litros.
Procurei por hotéis nas proximidades mas não encontrei. O único que vi, estava em obras.
Parei em uma farmácia e me indicaram um a cerca de tres quilometros.
Quando cheguei, vi que não era um hotel e sim um motel.
O negócio estava concorrido. Fila de carros e como já eram nove da noite, resolvi tentar ali mesmo.
Quando cheguei na guarita, pedi à moça quanto me cobraria por uma noite. Ela não entendeu e tive que explicar.
Depois de falar com o supervisor, a conta ficou em uns cem reais. Nem pensei duas vezes e topei.
Ela me autorizou a entrar e guardar a moto.
Contudo, o quarto ainda não tinha sido arrumado e tive que esperar quase uma hora para usar o mesmo.
Pensa em um dia estressante este de hoje.
Vou desmaiar na cama e não quero nem comer.

domingo, 6 de dezembro de 2015

Equador

70º Dia - 03 de abril de 2014 - Piura/Peru a Loja/Equador

Deixei Piura e logo depois cheguei em Sullana.
Conforme disse, decidi tomar o caminho de Sullana para Macará no Equador e segui à direita.
Estrada deserta e estreita. Achei até que não ia chegar ao Equador por ali.
Pequenos vilarejos no caminho até avistar uma placa de que a fronteira estava à frente.
Em um curva, avistei a barreira policial com militares armados com fuzis.
Me pararam para ver documentos e eu pedi se era ali que dava saida do país.
Me disseram que sim e então segui para a imigração e aduana.
Só tinha eu. Então o atendimento foi rápido.
Quando voltei na moto, os soldados estavam tirando fotos. Deixei-os a vontade e até tirei uma com eles.
Cinco minutos depois já estava no lado equatoriano.
Peço desculpas pelas datas impressas nas fotos. Ainda não aprendi a mexer na câmera que comprei no Peru.

Fiz o trâmite mas uma das funcionárias disse que a máquina de xerox estava com problemas e por isso eu deveria ir até Macará, a cinco km para tirar uma cópia de um canhoto.
Enquanto saía, chegou um motociclista em uma custon. Acenei para ele e segui até Macará onde consegui tirar a cópia e retornei na fronteira pois tinha que deixar a cópia na aduana.
Aproveitei para fazer o seguro que me custou 31 dólares.
O motociclista ainda estava lá e nos apresentamos.
Ele é Marcos, presidente do MC Jinetes do Desierto de Piura no Peru.
Estava indo para um encontro motociclistico em Cuenca no Equador, ou Ecuador como escrevem aqui.
Combinamos seguir juntos e assim o fizemos até a cidade de Loja, onde pernoitamos.
Marcos já passou por aqui e aproveitamos para andar pela cidade, conhecendo alguns lugares.
O hostal simples de 10 dólares me trouxe aborrecimento. Não havia água e tive que trocar de quarto.

71º Dia - 04 de abril de 2014 - Loja a Ambato/Equador

Manhã fria em Loja. Deixamos o hostel e fomos até uma bela feira nas próximidades.
O café da manhã foi uma bela salada de frutas, servida de modo diferente ao do Brasil e um suco de piña.

Retornamos ao hotel e depois de prepararmos as motos, deixamos a cidade com destino à Cuenca.
A cordilheira logo mostrou sua cara com muita neblina e curvas.
Eu procurando andar o mais rápido possível e o Marcos me seguindo, porém em velocidade bem menor.
Assim foi durante quase uma hora mas confesso que não aguentei e me despedi do Marcos. Talvez nos reencontraríamos em Cuenca durante o encontro motociclistico.
Sozinho e um pouco mais rápido, fui ziguezagueando no alto da cordilheira. Como eram muitas as curvas, resolvi contá-las.
Zerei o odômetro e em um espaço de 100 km contei 330 curvas.
Elas continuavam pela frente e desisti de continuar a contagem mas acho que foram umas 600 em um trecho de pouco mais de 200 km.
Me lembrei da Serra Lema, ou Serra da Virgem na Venezuela que tem 220 curvas em um trecho de 50 quilômetros.

Cheguei cedo em Cuenca. Pensei em ficar para o encontro mas para isso, gastaria mais um dia dos poucos que me restam até chegar em casa.
Passei direto pela cidade.

Do mesmo modo, passei por Azogues, Alausí e Riobamba.
No final do dia cheguei em Ambato e cansado, resolvi pernoitar ali já que Quito seria inalcansável neste dia.

72º Dia - 05 de abril de 2014 - Ambato/Equador a Pasto/Colômbia

Sai cedinho de Ambato e passei por Latacunga e Machachi.
Decidi passar por Quito sem conhecer melhor a cidade. Pretendo um dia voltar para conhecer Galápagos e farei um tour pela cidade na próxima viagem.
Cayambe, Ibarra e Tulcan foram as outras cidades pelas quais passei.
Na fronteira do Equador houve muita demora na liberação da saída. Me pediram todos os documentos e foram inspecionar a moto, inclusive o chassi para só então autorizarem.
Isso me atrasou duas horas.

Deixei o país e logo depois já estava do lado colombiano.
O funcionário que cuidava do trâmite tinha saído para almoçar e esperei quase uma hora.
Quando chegou, foi tirar o decalque do chassi e depois de meia hora de conversa, fui autorizado a entrar na Colômbia.
Tão logo me liberaram, segui para a cidade de Ipiales, logo à frente.
Ali chegando, fui visitar a Iglesia Nuestra Señora de Las Lajas construida no fundo de um vale.
O visual do alto não me encantou e desci até a pequena vila de onde se pode ir a pé até a igreja.
Deixei a moto estacionada ao lado da Subestacion de Polícia de Las Lajas e desci.
Passei por uma centena de barracas com artesanatos variados.
Nas escadarias, milhares de placas fixadas nos paredões com agradecimento pelas graças alcançadas.
Quando cheguei, estavam celebrando uma missa.

Segundo contam, neste local era uma passagem para os moradores da região, fazendeiros principalmente.
Certa vez, uma família de posses, ao passar pelo local, a filha pequena teve uma visão e disse que "a mestiça estava falando com ela".
A família então decidiu construi ali uma igreja em homenagem à santa e hoje, centenária, ela recebe visitantes de todo o mundo.
Fiquei encantado com a arquitetura da igreja construida sobre um rio.
Depois de algumas fotos, sofri para subir centenas de degraus. Cheguei com um palmo de língua de fora. Paguei o estacionamento e deixei o local ainda com sol alto.

Descidi não fazer o SOAT que é o Seguro Obligatorio de Accidentes a Terceros pois até agora ninguém me parou para pedir. Vou arriscar e economizar uns 30 dólares.
Pouco tempo depois cheguei na cidade de Pasto, onde encontrei uma pousada de 40 mil pesos e ali fiquei.
Até aqui já somo 28.900 km percorridos nesta viagem.

sábado, 5 de dezembro de 2015

Peru

62º Dia - 26 de março de 2014 - Copacabana/Bolivia a Cusco/Peru

Deixei Copacabana e me dirigi à Kasani na fronteira com o Peru.
Fiz o trâmite na aduana e imigração boliviana, troquei o resto dos bolivianos por soles peruanos e comprei uns souvernirs em uma tenda ao lado.
Subi na moto e dei partida. Haviam alguns cones na pista e pedi ao policial para retirar e assim eu poder seguir viagem.
Ele me perguntou se eu tinha passado na policia.
Disse que não e perguntei porque. Ele informou que além da imigração e aduana, eu deveria carimbar um documento na policia.
Desci da moto e fui até a sala, onde dois policiais estavam conversando.
Me perguntaram da autorização da moto para rodar na Bolívia. Disse-lhes que já tinha dado baixa na aduana e o papel ficou retido lá.
Me informaram que eu deveria ter primeiro passado na policia para depois ir para a aduana.
Falei que ia até a aduana buscar o documento e me disseram que não precisava mais. Bastava eu apresentar cópia de outro documento.
Abri minha pasta com dezenas de cópias e pedi qual delas eles queriam. A primeira cópia era do passaporte e pediram ela.
Um deles carimbou o verso da cópia e simplesmente disse: 30 bolivianos.
FDP.... eu pensei que ia sair da Bolívia sem pagar proprina mas não teve jeito. Já estava saindo do país mesmo. Paguei o que me pediram, algo equivalente a vinte reais.
Vou guardar a cópia com o carimbo!
Pouco depois já estava entrando no Peru (sem gracinhas, por favor) na cidade de Unguio.
Diferente da Bolívia, fui muito bem atendido tanto na imigração quando na aduana.
Nem o seguro me pediram.
Fui em frente e uma hora depois já estava em Puno.
Aqui você pode comprar um pacote turístico para visitar as ilhas flutuantes no Lago Titicaca. São indígenas que utilizam um junco chamado de totora para construir pequenos barcos, casas e ilhas flutuantes onde vivem.
Como pretendo voltar outra vez, vou deixar este programa para depois. Ainda estou ruim e quero chegar logo a Machu Pichu.
Quando cheguei em Juliaca, a rodovia estava tomada por cacos de vidros, pedras e pedaços de madeira.
Enquanto abastecia pedi o que significava aqui.
Me informaram que durante uma semana houve greve de mineiros que bloquearam a rodovia na entrada e saída da cidade. Quem ousou passar teve o carro apedrejado e muita gente se feriu.
A greve acabará no dia anterior à minha passagem, para minha sorte.
Muito trânsito na cidade e foi difícil atravessá-la.
Continuei minha viagem até Cusco, chegando à noitinha.
Reabasteci a moto e pedi ao frentista para me indicar um hotel nas proximidades.
Com gestos ele me mostrou onde poderia conseguir um.
Fui até lá e não era bem o que eu queria mas, já que estava ali, resolvi ficar. Paguei 30 soles.
A construção era um misto de residência com o que já fora um motel. Esta em estado precário mas já dormi em lugares piores.
Paguei o equivalente a 30 reais. Através da portaria, consegui que me trouxessem um sanduiche gigante com pepsi.
Hoje foram 400 quilometros em dez horas de viagem, contando o tempo gasto na fronteira.

63º Dia - 27 de março de 2014 - Cusco/Peru

Decidi ficar um dia em Cusco para recuperar as forças. Pela manhã fui até a Plaza de Armas e outros pontos turísticos.

Comprei um pacote para Machu Pichu pagando 225 dólares com tudo incluido.
Almocei em um bom restaurante e retornei ao hotel para descansar.


64º Dia - 28 de março de 2014 - Cusco a Machu Pichu/Peru

Eram quatro da manhã quando a van passou no hotel para me levar até Ollantaytambo a 120 km de Cusco.

Chegado lá me dirigi até o trem da Inca Rail e vinte minutos depois seguimos viagem de uma hora e quarenta minutos até a cidade de Aguas Calientes, na base da montanha onde está Machu Pichu.
O trem é confortável com janelas amplas de onde se pode admirar a paisagem. Durante todo o trajeto o trem vai contornando um rio caudaloso. O Rio Vilcanota quando transborda,cobre a ferrovia e interrompe as viagens até baixar o nível das águas.
Cheguei em Aguas Calientes e um guia Dimas já me esperava. Me levou até o hotel e combinamos sair as dez horas para visitar Machu Pichu.
Como a cidade é espremida pelas montanhas e pelo rio, só há pequenas vielas para se deslocar.
Aproveitei para comprar uma nova camera já que a minha quebrou quando do acidente.
As vans ficam em um determinado local e de lá parte para subir a montanha.
Durante o deslocamento se percebe o fisco de subir, pela estrada que serpenteia a montanha. Muitas vezes a van passa tão perto do precipício que você tem a impressão que vai rolar montanha abaixo.
Chegamos ao local, ao lado de um luxuoso hotel às portas do parque.
O guia nos orientou como agir e logo depois entramos no portão de acesso às ruínas, carimbando o passaporte com um selo alusivo ao local.
O passeio de uma hora e meia foi muito bom. Consegui entender muito dos mistérios daquele local construido pelos Incas, povo que tinha o Sol como seu principal deus.

Não subi em Waina Pichu por que estou muito desgastado fisicamente, mas farei isso com certeza em outra oportunidade.
Recomendo a todos visitar em local mágico, tanto Machu quanto Waina Pichu.
Com algum tempo livre antes de tomar a van para voltar ao hotel, aproveitei para almoçar às portas da cidade de pedra.
O restante da tarde foi usada para andar por Água Calientes e comprar um monte de pequenas lembranças.

65º Dia - 29 de março de 2014 - Machu Pichu a Abancay/Peru

O trem partiu 08h30 regressando à Ollantaytambo com dezenas de pessoas de várias nacionalidades. Este trem custa aproximadamente 50 dólares, caso você opte apenas por ele. Aconselho a quem vir a Machu Pichu, que venha de moto até Ollantaytambo. Há várias pousadas simpáticas na cidade.

Uma hora depois já na pequena cidade, procurei a van que me levaria de volta a Cusco e não encontrei.
Decidi pegar uma que faz o trajeto levando turistas mas o motorista disse que só partiria quando estivesse lotada.
Desisti e fui em busca de outra já que tinha várias nas proximidades.
Um motorista já estava de saída e entrei, junto com mais quatro passageiros. Paguei 20 soles.
Durante a viagem me arrependi de ter tomado aquela van.
O motorista, sempre que via alguém parado à beira da rodovia, gritava "Cusco, Cusco".
E assim, a viagem que deveria demorar uma hora e meia, levou quase três.
Retornei ao hotel onde tinha deixado a moto e ajeitei tudo para partir logo depois.
A rodovia estava em boas condições exceto pelos techos onde teve "derrumbes" ou desmoronamento.

Nestes locais, apesar das pedras já terem sido removidas, o asfalto está muito ruim e em alguns trechos tinha sido removido.
Começo agora a descer a Cordilheira dos Andes rumo ao Oceano Pacífico.
A viagem corria tranquilha montanha abaixo com suas centenas de curvas.
Eram cinco da tarde quando estava chegando na cidade de Abancay. De longe vi uma barreira policial na estrada e lembrei que não tinha feito o seguro para rodar no país.
Felizmente havia um hostel antes da blitz e entrei nele, já que ia pernoitar na cidade.
O proprietário, também motociclista me recebeu muito bem e até mostrou suas três motos, uma delas também BMW 650 de modelo mais antigo que a minha.O pernoite custou 30 soles.
Infelizmente não serviam comida no hotel e eu não quis sair à noite até a cidade, contentando-me com algumas barras de cereal.
Rodei só 220 km em tres horas de viajem hoje.

66º Dia - 30 de março de 2014 - Abancay a Nasca/Peru

Por volta das nove horas deixei o hotel e fui até o centro de Abancay onde fiz o seguro SOAT da moto e que me custou 35 dólares. Aproveitei para tomar o café da manhã ao lado e parti rumo a Nasca.

A rodovia continua ladeira abaixo e é um trecho longo e deserto até lá.
Não há muito o que falar deste dia que foi bastante monôtono.

Cheguei na empoeirada Nasca quando eram tres da tarde.
Logo na entrada da cidade tinha um cover do Mac Donald's é me acabei de comer frango frito pois ainda não tinha almoçado.
Várias pessoas ofereciam hotel nas proximidades e uma mulher veio ataé mim oferecendo um pousada barata.
Pedi se tinha garagem e me disse que sim.
Concordei em conhecer o local e ela em seu carro e eu, de moto, fui atrás.
A pousada era razoável mas não tinha garagem. O dono queria que eu colocasse a moto na recepção mas vi que ela não passaria na porta.
Desiste e ela me indicou outra. Lá fomos nós. Não tinham garagem e teria que deixar a moto na rua. Desisti.
Agradeci à mulher e fui rodar pela cidade.
Até que encontrei um hotelzinho simpático. Já tinha visto a garagem e descidi ficar ali.
Depois de acertar tudo, o dono abriu as portas de uma sala imensa e guardei a moto lá dentro, para não deixá-la juntos com os carros ao relento.
Chego a 25.850 km rodados.


67º Dia - 31 de março de 2014 - Nasca/Peru

Dia dedicado ao descanso e conhecer um pouco do que a cidade oferece aos turistas.

68º Dia - 01 de abril de 2014 - Nasca a Barranca/Peru

Quando acordei, descansado, recolhi as coisas e fui até moto para guardar.
Na noite anterior, como a moto tinha ficado trancada na sala, deixei sobre ela os elásticos de amarração.
Para minha surpresa, dois deles tinham desaparecido, inclusive uma "aranha" que comprei no Chile.
Pedi ao recepcionista e ele disse que não sabia de nada. Duvidei, até porque ele também tinha uma moto e nenhuma outra pessoa teve acesso ao local.
Chateado, amarrei com outros que tinha no baú e deixei Nasca por volta das nove horas.
O destino de hoje será Lima e se der, passar um pouco da capital peruana.
Exceto pelo Oceano Pacifico, a Panamerica é monotona.
Esta monotonia é quebrada de vez em quando pela presença de pequenas cidades e das pessoas que circulam. As mulheres, de descendência indígena, com sua vestimenta típica é uma atração à parte.

Passei por Palpa, Ica, Pisco, dentre outras cidades até chegar em Lima quando eram tres da tarde.
Ainda há vento com um pouco de areia na pista e de vez em quando uma neblina que vem do oceano e dificulta a pilotagem, mas, ao nível do mar, é mais fácil do que no alto da Cordilheira dos Andes.
Desci seguir um pouco mais e por volta das 18h cheguei em Barranca e procurei por pousadas.
A primeira, não tinha garagem.
A segunda tinha mas foi complicado abrir a porta que estava emperrada. Só tinha vaga para o carro do dono da pousada mas, apertando, consegui colocar a moto também.
Rodei 660 km hoje e muito cansado, resolvi parar por aqui.
Ao chegar no quarto liguei a TV e vi que tinha ocorrido um terremoto em Iquique, no Chile.
Havia um alerta de tsunami para toda costa da América do Sul que se estendia do Chile até a Colômbia.
E eu ali, pernoitando à 100 metros do oceano.
Desci para comer em uma lanchonete próxima e olhando para as pessoas, pensei: Será que elas não sabem da ameaça de tsunami nesta noite?"
Voltei ao hotel e pela conversa com o proprietário, vi que não estavam dando a mínima importância.
Acompanhei o telejornal durante várias horas com o povo sendo retirado do litoral chileno.
Dormi e acordei várias vezes até que lá pelas três da madruga, o alerta de tsunami foi retirado.
Ainda assim foi difícil dormir. Não queria acordar com a água nos pés rsrsr.
Nota: Um ano depois de passar por Barranca, li que um motociclista xará meu (Cesar Espiritu) tem um moto pousada na cidade.

69º Dia - 02 de abril de 2014 - Barranca a Piura/Peru

Ainda sonolento levantei pois o "tiro" de hoje seria longo.
Quero chegar o mais próximo da fronteira com o Equador e esse Peru é muito comprido eheheh.
Deixei a cidade e continuei pela Panamericana tendo do lado esquerdo o Oceano Pacífico.
Huarmey, Casma, Chimbote, Trujillo, Chiclayo foram algumas das cidades pelo caminho.
Pensei em almoçar mas o sono depois pode ser perigoso. Então me contentei com rápidos lanches em postos de combustíveis, ou grifos como chamam por aqui.
Não me preocupei com fotos no dia de hoje. Meu tempo está estourando e preciso manter a média para chegar no Brasil dentro do prazo negociado com a empresa.
A partir de Chiclayo, entrei um pouco mais no continente e o oceano desapareceu.
Contudo aumentou a quantidade de areia soprada pelos fortes ventos.
Cheguei em Piura e me atirei dentro do primeiro hotel que vi.
O cansaço vem aumentando dia a dia e preciso repousar mais tempo. Além disso, a noite de ontem foi mal dormida por conta da ameaça do tsunami.
Li que geralmente o pessoal passa por Talara e entram no Equador depois da cidade de Tumbes.
Eu vou fazer outro roteiro e contarei no tópico de amanhã.
Esta travessia do Peru via Puno, Cusco, Nasca, Lima, Piura, Sullana é de mais 2.900 km.